Em ação inovadora, MSF fornece tripla proteção contra a malária para crianças no Burundi

Mais de 17 mil pacientes são atendidos pelo programa, que se mostrou simples, barato e eficaz no combate à doença

Mães aguardam distribuição de redes mosquiteiras após a vacinação de seus filhos no centro de saúde de Rugombo, apoiado por Médicos Sem Fronteiras, no distrito de Cibitoke. © Frédéric Janssens/MSF

No Burundi, há anos, a malária tem sido a principal causa de hospitalização e morte entre crianças que estão em seus primeiros anos de vida. Para reduzir os riscos e as consequências dessa doença fatal, Médicos Sem Fronteiras (MSF) iniciou uma abordagem inovadora de “tripla proteção” em uma das regiões mais afetadas do país. 

A malária é um grande problema de saúde pública no Burundi. Para combatê-la, as autoridades de saúde e seus parceiros vêm implementando várias estratégias ao longo dos anos: distribuição de mosquiteiros, tratamentos preventivos, pulverização interna e, desde o final de 2024, a introdução da vacinação contra a malária.  

O país, de cerca de 14 milhões de habitantes, registra milhões de casos da doença a cada ano. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 1.800 mortes relacionadas à malária foram registradas em 2023, principalmente entre crianças menores de 5 anos de idade. 

Fatores geográficos, climáticos, de saúde e socioeconômicos contribuem para a natureza endêmica e a escala da doença.  

 

Combinando abordagens para melhor proteção 

MSF e o Ministério da Saúde local lançaram uma iniciativa única no país: combinar três medidas preventivas em larga escala, simultaneamente, em um dos distritos sanitários mais afetados pela malária, Cibitoke. 

“Este distrito está entre os que têm o maior número de casos e mortes por malária, e nossas equipes já trabalharam em outras emergências para responder a surtos”, explica Zakari Moluh, coordenador de MSF em Cibitoke. “Para fornecer uma resposta mais sustentável, propusemos uma abordagem piloto às autoridades: proteger todas as crianças por meio da vacinação contra a malária, tratamento preventivo de longo prazo e fornecimento de mosquiteiros tratados com inseticida, tudo ao mesmo tempo.” 

Uma enfermeira administra a vacina contra a malária a uma criança no Centro de Saúde Kaburantwa, apoiado por MSF, no distrito de Cibitoke. © Frédéric Janssens/MSF

Cibitoke é o único distrito sanitário do país onde essa estratégia em três frentes está sendo implementada. O objetivo é reduzir drasticamente a incidência de malária entre crianças por meio do efeito combinado dessas três ações. Cerca de 17.900 crianças são atendidas pelo programa. 

“A vacinação e o tratamento preventivo se reforçam mutuamente para garantir a eficácia”, continua Zakari Moluh. “Ao adicionar proteção física por meio de redes mosquiteiras, pretendemos fornecer a melhor defesa possível para crianças menores de 5 anos – a faixa etária mais vulnerável à doença.” 

 

Uma estratégia valiosa e barata 

Em termos práticos, as equipes de MSF estão apoiando 20 unidades de saúde em todo o distrito para implementar essa abordagem. Nesses centros, cada criança recebe quatro doses da vacina contra a malária RTS,S entre os seis e 18 meses de vida. No momento da primeira vacinação, a família recebe uma rede mosquiteira tratada com inseticida. Entre os nove e 24 meses de vida, essas crianças também recebem proteção adicional na forma de comprimidos de sulfadoxina/pirimetamina, conhecidos como “quimioprevenção perene da malária” (PMC, na sigla em inglês). 

O Centro Médico Kaburantwa é uma das instalações que MSF apoia como parte desse programa. No local, o tamanho da fila de espera em frente ao serviço de vacinação reflete a ânsia dos pais em proteger seus filhos. 

“Quando era mais jovem, meu filho costumava sofrer de malária. Ele até chegou a ser hospitalizado e receber uma transfusão de sangue”, diz Claudine Tuyishimire ao deixar a unidade de saúde após vacinar sua filha mais nova, Fanny, de nove meses de vida.  

Quando eles explicaram a proteção disponível hoje, eu não hesitei. Vim imediatamente. Graças a isso, hoje as crianças raramente adoecem.”

– Claudine Tuyishimire, mãe de um paciente atendido por MSF

Claudine Tuyishimire com sua filha, Fanny Ihabayo, perto do Centro Médico Kaburantwa, em Cibitoke, após a aplicação da vacina contra a malária na criança. © Frédéric Janssens/MSF

Em todos os centros envolvidos na implementação dessa abordagem, o entusiasmo é semelhante. As salas de espera permanecem cheias. Essa alta participação também é resultado de campanhas de conscientização e acompanhamento realizadas por agentes comunitários de saúde entre famílias e associações, principalmente grupos de mulheres. 

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“A escala do problema, bem como os custos que a doença impõe às famílias, estão gerando forte entusiasmo nas comunidades”, explica Adélaïde Ouabo, coordenadora de MSF no Burundi. “Os custos médicos do tratamento da malária – especialmente em suas formas graves – são extremamente altos para as famílias e para o sistema de saúde do país. Esses altos custos contrastam com o baixo investimento necessário para implementar a estratégia de proteção tripla.” 

O trabalho de MSF com o Ministério da Saúde em Cibitoke mostra que a implementação desse sistema é simples e barata em comparação com os benefícios que ele traz. A vacinação contra a malária e a distribuição de mosquiteiros já estão integradas ao sistema de saúde, e os medicamentos de tratamento preventivo são de baixo custo. A abordagem é, portanto, facilmente absorvida pelo sistema de saúde e replicável em outras partes do país. 

 

A necessidade contínua de tratamento 

A estratégia já parece estar produzindo ótimos resultados. As equipes de MSF observaram uma diminuição significativa nas internações por malária desde o terceiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano passado, especialmente para casos graves de malária no Hospital Distrital de Cibitoke, que tiveram uma queda de mais de 40%*. 

No entanto, para avaliar cientificamente o impacto preciso dessa combinação de ações na redução da malária, uma equipe especializada de MSF vem conduzindo pesquisas operacionais há vários meses. Os resultados informarão as autoridades de saúde e parceiros técnicos do Burundi sobre a eficácia dessa abordagem, ajudando-os a fazer as melhores escolhas para a implementação de estratégias de controle da malária. 

“Em um contexto de racionalização de recursos, por conta dos cortes no financiamento humanitário global, fazer escolhas mais eficazes e cientificamente comprovadas é essencial”, afirma Adélaïde Ouabo, coordenadora nacional de MSF no Burundi.  

Estamos felizes em contribuir para esse esforço.”

-Adélaïde Ouabo, coordenadora nacional de MSF no Burundi

Embora o fortalecimento da prevenção seja o objetivo central de MSF, a necessidade urgente de tratar crianças com malária permanece. As equipes da organização continuam fornecendo suporte às autoridades de saúde na prestação de atendimento médico. 

Equipe de MSF no Centro de Saúde Rugombo se prepara para aplicar vacinas contra a malária e tratamento preventivo às crianças. © Dorine Niyungeko/MSF

Nos vilarejos, agentes comunitários de saúde treinados por MSF podem detectar rapidamente os sintomas da malária, realizar testes de diagnóstico rápido e administrar tratamento se o resultado for positivo. 

Quando casos mais graves são identificados, eles são encaminhados para um dos centros de saúde apoiados por MSF, onde os supervisores médicos ajudam a fortalecer a prestação de cuidados. Em emergências, uma ambulância está disponível para transferir pacientes para o hospital distrital de Cibitoke. Lá, os profissionais de MSF apoiam o tratamento dos casos pediátricos e de terapia intensiva mais complexos, com equipes dedicadas a treinar e orientar médicos e enfermeiros locais. 

Em 2023, estima-se que 95% das 597 mil mortes globais relacionadas à malária ocorreram na África. A doença continua sendo uma grande emergência em grande parte do continente, especialmente na África Subsaariana. 

 

*Observou-se também uma queda de 23% nas consultas simples relacionadas à malária nos centros de saúde apoiados. 

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