Ebola na RDC: “Esperamos que esta vacina nos dê mais opções para futuros surtos”

O líder do projeto de MSF para a vacinação contra o Ebola, John Johnson, responde à quatro questões

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Nas últimas semanas, os preparativos para a introdução de uma nova vacina contra o Ebola estão em andamento em dois distritos de Goma. Chegou a vacina ZEBOV/MVA-BN-Filo. Médicos Sem Fronteiras (MSF) é parceira de um consórcio de organizações internacionais que iniciaram este estudo clínico e gerenciará sua implementação em colaboração com o Ministério da Saúde da República Democrática do Congo (RDC) e o Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica.
 
As equipes de sensibilização da comunidade de MSF se reuniram com pessoas nos distritos de saúde de Majengo e Kahembe, em Goma, para compartilhar informações sobre a vacina e responder às suas perguntas. Esses dois distritos foram identificados em colaboração com as autoridades de saúde como os primeiros que deveriam receber a vacina.
As equipes de imunização administrarão inicialmente a vacina em dois locais, com mais quatro a serem decididos nas próximas semanas. Ela será oferecida a adultos e crianças a partir de 1 ano, de acordo com o protocolo do estudo. Inicialmente, 50.000 pessoas serão alcançadas durante um período de quatro meses.
 
John Johnson é o líder do projeto de MSF para esta vacinação e esteve recentemente em Goma para ajudar no lançamento do programa.
 
Por que precisamos introduzir uma segunda vacina contra o Ebola?
 
A vacinação é uma das principais ferramentas para proteger as pessoas do vírus Ebola. A vacina rVSV-ZEBOV da Merck provou ser eficaz e tornou-se um recurso valioso na luta contra a epidemia. A introdução de uma segunda vacina não visa substituir a vacina rVSV, mas complementá-la e, esperamos, fornecer uma ferramenta adicional na luta contra futuros surtos de Ebola. Como este é o décimo surto de Ebola na RDC, faz sentido trabalhar no sentido de introduzir outra opção de vacina no país.
 
Quais são os objetivos específicos da introdução de uma segunda vacina?
 
O objetivo principal do estudo é obter dados sobre a eficácia da vacina em um cenário do mundo real. Estudos de laboratório mostram que esta vacina gera uma resposta imunológica aumentada contra o Ebola, mas a única maneira de confirmar sua eficácia fora do laboratório é introduzindo a vacina durante uma epidemia. Simplificando, o objetivo deste estudo é provar que a vacina protegerá as pessoas durante um surto real.
 
Há outras razões para estudar esta vacina em um cenário do mundo real. Por exemplo, para aprender como a vacina será aceita pela população, para testar a viabilidade de implantar um regime de duas doses durante uma epidemia e para ver se as pessoas voltarão a tempo para a segunda dose. E embora a vacina J&J tenha um bom histórico de segurança em estudos anteriores em humanos, é claro que continuaremos documentando dados de segurança. Além disso, a introdução e o exame adicionais desta vacina facilitarão seu uso em futuros surtos.
 
Por que essa vacina específica foi escolhida? Como vocês sabem que é seguro?
 
A vacina foi aprovada nas recomendações provisórias do grupo de especialistas em imunização em maio de 2019. Foi escolhida porque tem o maior potencial entre outras vacinas candidatas. Também porque já havia passado nos ensaios clínicos de fase I e II, com a participação de mais de 6.000 voluntários humanos. Esses estudos mostraram que a vacina possui um excelente perfil de segurança.
 
Como a redução no número de novos casos de Ebola afeta o estudo?
 
A redução no número de novos casos relatados a cada semana é uma ótima notícia, é claro, porém isso dificultará o estabelecimento da eficácia da vacina. Nosso objetivo é oferecer esta vacina a populações que vivem próximas a áreas de transmissão contínua do Ebola e esperamos que isso forneça proteção às comunidades em risco. Se o surto continuar e eventualmente chegar às áreas onde vacinamos, poderíamos confirmar se os indivíduos que foram vacinados estavam protegidos. Isso seria uma vitória para a população e também uma indicação da eficácia da vacina.
 
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