Crianças vivendo com diabetes tipo 1: corajosos e cercados por cuidados

Programa de MSF atende 80 crianças com menos de 15 anos de idade

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“As notícias realmente nos assustaram. Não sabíamos que esta doença poderia afetar crianças. Tínhamos percepções erradas sobre diabetes e como é o tratamento”, diz Mohammed, pai de Houssam, quando perguntado sobre a reação deles ao saber que o filho mais novo sofre de diabetes tipo 1.
 
Há cerca de um ano, após algumas complicações de saúde que precisaram de hospitalização, Houssam, de 12 anos, foi diagnosticado com diabetes tipo 1. Desde então, Houssam recebe atendimento médico abrangente na clínica de Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Aarsal, norte do Bekaa, que inclui consultas médicas, tratamento e educação em saúde. Ele também recebeu todas as ferramentas necessárias para medir os níveis de açúcar no sangue e receber injeções de insulina. Porém, agora, há quatro meses, seu tratamento vem evoluindo.
 
Diabetes tipo 1 afeta pessoas com pouca idade, que frequentemente encontram dificuldades em se adaptar a essa doença crônica ao longo da vida. Um dos desafios enfrentados é fazer com que crianças e pais aceitem que o tratamento dessa doença depende muito de injeções de insulina, e não de medicamentos orais. Pacientes com diabetes tipo 1 sofrem de insuficiência pancreática, o que significa que o pâncreas não produz insulina suficiente, impedindo que o açúcar no sangue (glicose) entre nas células e produza energia. A doença também requer monitoramento periódico dos níveis de açúcar no sangue, especialmente sabendo que as crianças afetadas pelo diabetes tipo 1 são mais propensas a desequilíbrios repentinos que podem ter sérias complicações e efeitos colaterais a longo prazo. Assim, MSF dá atenção especial a essa categoria de pacientes e está desenvolvendo ainda mais seus programas para melhor atender às suas necessidades.
 
No entanto, esses riscos não impedem que os pacientes também possam ter uma vida normal. Um bom gerenciamento de doenças implementado pela criança e pelos pais, bem como acompanhamento médico regular, pode garantir uma vida normal e a perspectiva de um futuro brilhante. “Sonho em viajar para a Suécia para estudar e me tornar médico”, diz Houssam. “Acostumei-me a viver com a doença e agora posso controlá-la com a ajuda dos meus pais e o apoio da equipe médica”, acrescentou com um sorriso. “O mais difícil é não comer batatas fritas sempre que eu quiser e ter que tomar insulina com agulhas”. No entanto, Houssam não usa mais o dispositivo de medição tradicional, que requer picadas com agulhas para medir os níveis de açúcar no sangue. Ele foi colocado no programa de Monitoramento Contínuo de Glicose (MCG). Esse programa é oferecido por MSF para 80 crianças no Líbano, dentro da estrutura do programa de tratamento de doenças crônicas específico para pacientes com diabetes tipo 1 com menos de 15 anos de idade.
 
Com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes com diabetes tipo 1, capacitá-los e aumentar o nível de adesão ao tratamento, MSF vem adotando o programa MCG em suas clínicas no Vale do Bekaa e no norte do Líbano desde meados de 2019. Os pacientes usam um sensor no braço que mede os níveis de açúcar no sangue. O dispositivo deve ser escaneado em horários específicos durante o dia e à noite para salvar e exibir dados na forma de gráficos, permitindo que pacientes e pais tomem medidas imediatas e resolvam quedas ou picos repentinos nos níveis de açúcar. Isso também permite que a equipe médica ajuste o programa de tratamento durante o exame médico com base em dados precisos.
 
Cedra, de 12 anos de idade, compartilha a luta de Houssam contra a diabetes e os desafios de se comprometer com uma dieta saudável, pois ela muitas vezes deseja comer doces com seus irmãos e amigos. No entanto, ela usa uma técnica de tratamento diferente: Cedra obtém as doses necessárias de insulina usando a caneta de insulina. MSF fornece a caneta de insulina para mais de 100 crianças em suas clínicas no campo de Shatila, no sul de Beirute.
 
“Usamos a caneta de insulina com crianças e adolescentes com diabetes tipo 1 porque é mais prático para elas. Crianças ou pais podem ajustar a dosagem de insulina com mais precisão, sem mencionar que é de ação rápida”, diz Laura Rinchey, consultora médica do projeto de MSF no sul de Beirute, no Líbano. “O objetivo por trás dessa técnica é permitir que as crianças controlem suas doenças e gerenciem sua saúde por conta própria. Este é o primeiro passo para se adaptar à vida com diabetes. Nossas equipes de educação e aconselhamento em saúde trabalham para fornecer o suporte ideal às crianças e comunicar as informações necessárias aos pais, permitindo que eles cooperem e proporcionem um estilo de vida saudável aos filhos”, acrescentou.
 
Em breve, Houssam receberá a caneta de insulina, que poupará o uso de agulhas. MSF planeja implementar essa técnica em suas clínicas no vale de Bekaa. No entanto, se os serviços de MSF não estivessem disponíveis, Houssam e Cedra podem não receber esse atendimento médico de qualidade. A mãe de Cedra afirma que a família está sofrendo com difíceis condições financeiras devido ao status de refugiados e que ela não pode pagar o tratamento e as ferramentas de que Cedra precisa. A insulina, o dispositivo de monitoramento, as tiras e as canetas de insulina podem custar até 100 dólares por mês (cerca de 420 reais), uma quantia que ela simplesmente não pode pagar. “Às vezes, sou incapaz de prover os alimentos saudáveis recomendados para minha filha e muito menos a medicação”, diz ela. “Isso me preocupa”. 
 
Embora o diagnóstico de diabetes tipo 1 possa chocar as crianças e seus pais e apresentar um obstáculo em termos de custos do tratamento, nossas equipes médicas atestam a coragem dessas crianças e a maior conscientização dos pais, pois estão fazendo um ótimo trabalho de adaptação à esta doença e protegendo seus filhos de suas repercussões psicológicas e complicações físicas. As crianças que chegam à nossa clínica abraçam a vida com um sorriso, seus corações cheios de inocência e determinação.
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