COVID-19 pode deteriorar ainda mais o sistema de saúde da Síria

Noroeste do país sofre com carência de médicos e combate ao coronavírus afeta serviços essenciais

COVID-19 pode deteriorar ainda mais o sistema de saúde da Síria

Quatro meses após a COVID-19 ter sido oficialmente declarada uma pandemia internacional, a doença chegou ao noroeste da Síria, com o primeiro caso confirmado no início de julho. Desde então, duas dezenas de pessoas testaram positivo para a doença na região, mais da metade profissionais de saúde que estavam trabalhando nos poucos hospitais que seguiam funcionando.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) alerta sobre o perigo de uma deterioração ainda maior do sistema de saúde local, já muito danificado por anos de guerra.

“O fato de os primeiros casos confirmados de COVID-19 virem da comunidade médica é preocupante, e mais ainda em um lugar como o noroeste da Síria”, diz Cristian Reynders, coordenador das operações de MSF na região. “Se apenas alguns médicos ficarem temporariamente fora do trabalho, em isolamento, já fará enorme diferença quando se trata do acesso geral à saúde. Mesmo antes do surto, os recursos humanos eram muito limitados: muitos médicos fugiram da guerra na Síria e os hospitais frequentemente precisam ‘compartilhar’ o pessoal médico para permanecerem abertos e funcionando”.

Dois dos hospitais que tiveram médicos contaminados por COVID-19 fecharam temporariamente suas portas e toda a equipe está em isolamento em casa ou em quarentena nas próprias unidades de saúde. Como os médicos estavam trabalhando em várias unidades de saúde em diferentes locais (distritos de Azaz, Sarmada e Ad-Dana) nas províncias de Aleppo e Idlib, o vírus já pode ter migrado do que parecia ser um aglomerado localizado para uma área mais extensa.

Serviços regulares estão sendo reduzidos ou suspensos

Os serviços também foram reduzidos em outros hospitais na região. Autoridades locais de saúde pediram às unidades que suspendessem temporariamente seus serviços ambulatoriais e cirurgias não essenciais. “Desde o início da pandemia, alguns ambulatórios foram fechados por semanas em resposta a alertas sobre a COVID-19”, informa Reynders. “É claro que é importante tomar medidas preventivas, mas esta é uma região que não tem capacidade médica extra para assumir o ônus de tais medidas. É essencial observar o grande impacto que está acontecendo nos cuidados regulares de saúde”.

“Há algum tempo, estamos preocupados com as possíveis consequências da COVID-19 em Idlib. Mas é extremamente preocupante o fato dos serviços essenciais terem sido temporariamente fechados ou reduzidos e de estarmos enfrentando ainda mais escassez de recursos humanos do que antes da pandemia ”, prossegue Reynders.

Os profissionais que acompanham os casos positivos dizem que testes e rastreamento de contatos estão em andamento para tentar impedir a propagação do vírus. Isso é particularmente importante em um contexto como o noroeste da Síria, onde cerca de 2,7 milhões de pessoas vivem deslocadas, principalmente em campos superlotados. São locais sem água e saneamento e onde é quase impossível praticar o distanciamento físico.

Poucos testes à disposição

Além disso, sabemos por meio de nossas clínicas móveis e atividades de apoio hospitalar que existe um número significativo de pessoas vulneráveis às consequências da COVID-19 : idosos ou com doenças crônicas, como diabetes.

“Existe um problema real de capacidade de teste na região noroeste da Síria”,  avalia Reynders. “Poucos testes foram disponibilizados, e a testagem acelerada após esses casos confirmados está esgotando rapidamente os kits disponíveis. Se eles acabarem, há uma chance de rápida disseminação da doença nos campos, que será impossível rastrear e interromper. E essa perspectiva traz consequências alarmantes para as pessoas mais vulneráveis – idosos e pessoas com doenças não transmissíveis – que devem ser priorizadas na distribuição de kits de higiene e outras medidas para protegê-las contra o vírus”.

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