Coordenadora de MSF descreve situação nos territórios palestinos

Laura Brav visitou regiões mais atingidas pela operação Chuva de Verão do Exército de Israel. Nutrição, atendimento médico e acesso a saneamento básico preocupam a organização

Depois do seqüestro de um de seus soldados, o Exército de Israel entrou novamente na Faixa de Gaza. A incursão, batizada de Chuva de Verão, provocou vários desgastes materiais e humanos. Laura Brav é coordenadora geral de Médicos Sem Fronteiras (MSF) nos territórios palestinos e conta neste depoimento como está a situação.

"No sábado passado consegui entrar em Gaza com nosso responsável pelo terreno, um médico e um profissional de logística. Nós avaliamos a situação para que uma conseqüente intervenção seja realizada. Pudemos ver a operação Chuva de Verão, com tanques israelenses e tiros disparados na porção norte de Gaza. O barulho das explosões é incessante e aterrorizante, principalmente para as crianças. Os assassinatos com alvos específicos também ocorrem com freqüência, ocasionalmente ferindo e matando civis que estão no local errado no momento errado. Ao mesmo tempo, os Qaasams (foguetes artesanais palestinos) continuam sendo atirados em direção a Israel a partir de Gaza.

Além das perdas humanas, a operação israelense provoca grandes estragos materiais. A única central de energia elétrica de Gaza – que também alimenta as centrais de abastecimento de água – foi destruída pelos bombardeios, as casas foram ocupadas, danificadas. Muitos campos de colheita foram prejudicados. Muitas casas estão sem luz. Na última semana, MSF forneceu água a 40 famílias (uma média de 400 pessoas) na localidade de Shoka, ocupada por israelenses e localizada próximo à cidade de Rafah.

Bloqueios à entrada de medicamentos, alimentos e combustível, necessários ao funcionamento dos geradores elétricos, ainda vigoram em Gaza. A pressão de alguns governos e das Nações Unidas fez com que alguns bloqueios fossem levantados, mesmo assim a maioria dos pontos de passagem de material são controlados rigorosamente por Israel. A passagem de Karni, por exemplo, chegou a ser aberta para a passagem de material, mas uma semana depois foi fechada novamente pelo Exército de Israel. As dificuldades também atingem as vítimas de doenças crônicas como câncer e diabetes. Elas não estão podendo mais ser transportadas para países vizinhos como Israel, Egito e Jordânia, onde poderiam receber tratamento. Em Gaza, não há estabelecimentos capazes de tratar esse tipo de paciente.

MSF entrou em contato com os hospitais da região. No momento, geradores de eletricidade permitem que o atendimento seja mantido. Os feridos estão sendo tratados corretamente, as salas de operação funcionam, os cirurgiões conseguem trabalhar. Mesmo não sendo pagos, os profissionais de saúde continuam trabalhando. MSF doou alguns medicamentos e materiais médicos a hospitais de Gaza, mas avaliamos que é difícil os locais continuarem funcionando sob insegurança e dependendo de doações esporádicas como as realizadas.

Nesse contexto pode-se sentir o estresse e o nervosismo entre a população. MSF realiza atendimentos psicológicos na região e podemos perceber a angústia de nossos pacientes, principalmente após iniciada a operação Chuva de Verão. Enviamos mais profissionais a Gaza essa semana.

Depois que os Estados Unidos, a União Européia, o Canadá e o Japão interromperam sua ajuda financeira direta ao governo palestino, a situação sanitária na região vem se deteriorando. Se piorar mais, a situação pode ficar catastrófica. Precisamos agir rapidamente. Uma outra equipe de MSF, que está em Amã, na Jordânia, está pronta para vir nos ajudar em caso de urgência".

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