Como deve ser um novo teste de TB?

Diretor da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais, Tido von Schoen-Angerer, responde à crucial pergunta

Nos dias 17 e 18 de março, Médicos Sem Fronteiras (MSF) reuniu um grupo de médicos, laboratoristas e criadores de testes para responder como deveria ser o novo teste para detecção da tuberculose (TB). O diretor da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais, Tido von Schoen-Angerer, fala sobre o que é necessário mudar para melhor enfrentar a doença.

Por que esse encontro foi realizado?
Os testes para tuberculose que existem hoje são insuficientes – para crianças, para pessoas HIV positivas, para os que têm algumas formas de TB. A lista de pessoas que não é coberta por testes de TB é longa. Há um grande consenso de que os testes feitos em microscópios atualmente não são bons o suficiente para detectar tuberculose. Eles só detectam a doença em menos da metade dos pacientes infectados com TB. A idéia desse encontro é pedir a especialistas que pensem em um critério mínimo que esse novo teste precisa ter. A razão pela qual precisamos do critério mínimo se traduz na necessidade de guiar os criadores de testes, para que eles evitem situações nas quais os testes tenham qualidade menor do que a defendida como a ideal.

O que os participantes identificaram como requerimentos básicos para um novo teste de TB?
Concordamos que novos testes são necessários para detectar um maior escopo de TB pulmonar, independentemente dos pacientes serem soropositivos ou não. As ferramentas atuais são muito ineficazes quando se trata de detectar TB em pacientes soropositivos. Então precisamos de novos testes para mudar isso.

Também precisamos de ferramentas mais eficazes para detectar de maneira mais eficiente a TB em crianças. O novo teste não pode ser feito através do exame de escarro de crianças. Isso é fundamental porque é muito difícil conseguir uma amostra de escarro de crianças, por isso muitas deixam de ser diagnosticadas.

Também é vital que o teste funcione nos lugares onde os pacientes realmente estão, no primeiro ponto de contato da pessoa que está se sentindo mal e os serviços de saúde. É neste nível que os pacientes de TB são mais vistos e é justamente onde o teste é mais necessário.

Todos os resultados devem ser rápidos. Para fazer esse novo teste valer a pena do ponto de vista sanitário, os pacientes precisam ter o resultado em um dia. E deve ser simples: qualquer trabalhador de saúde deve ser capaz de realizá-lo apenas com um pequeno treinamento. É um grande desafio científico criar esse teste, mas todos concordamos que não podemos aceitar nada menos que isso.

Há comunidade de pesquisa de TB está se mobilizando nesta direção? Se não, por quê?
Os esforços atuais para desenvolver um novo teste de TB que possa ser implementado a um nível periférico são completamente insuficientes – para um não há atores o suficiente envolvidos e mais pessoas precisam trabalhar no diagnóstico de TB.

Mas há ainda alguns obstáculos práticos que precisam ser resolvidos. Por exemplo, os criadores de testes precisam ter melhores bancos de espécimens para que possam saber se os novos testes funcionam ou não. Mais trabalho é necessário no que chamamos de "marcadores biológicos", que são métodos diferentes de detectar a doença – e nós precisamos de trabalho urgente para ver se os marcadores biológicos existentes são bons o suficientes para se tornarem um novo teste.

Também há necessidade urgente de mais acesso à informação sobre o atual progresso da pesquisa sobre ferramentas de diagnóstico de TB. No encontro nós discutimos o estabelecimento de um canal para trocar informação livremente e para que haja um progresso regular e uma revisão crítica. Hoje, as pessoas estão trabalhando por conta própria, cada um na sua. Claro que isso limita o progresso.

E, obviamente, há um problema de financiamento. Os recursos destinados para a pesquisa de TB e desenvolvimento são realmente limitados, mas apenas 7% dessa pequena quantia vai para pesquisa e desenvolvimento de novas formas de diagnóstico. Então muito mais dinheiro é necessário – esses fundos precisam ter origens diferentes, em novos mecanismos de financiamento. Precisamos de mais fundos para pesquisadores, mas também novos meios de estimular a pesquisa, como prêmios, para trazer mais atores para esse campo negligenciado.
 

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