Colômbia: atendimento médico para migrantes venezuelanos

Com o sistema de saúde local sobrecarregado, MSF abre projetos em La Guajira, Norte de Santander e Arauca

Colômbia: atendimento médico para migrantes venezuelanos

Médicos Sem Fronteiras (MSF) começou a trabalhar recentemente em Riohacha, no departamento de La Guajira, Colômbia, para atender às necessidades de saúde de migrantes venezuelanos, de colombianos que estão retornando da Venezuela e da população local que não têm acesso a assistência médica. MSF também continua atendendo migrantes venezuelanos nas áreas fronteiriças de Norte de Santander e Arauca, na Colômbia.

Em Riohacha, MSF apoia o ambulatório do Hospital Nuestra Señora de los Remedios e em breve iniciará clínicas móveis em áreas urbanas e rurais no entorno da cidade, oferecendo cuidados de saúde primária, planejamento familiar, cuidados de saúde mental e informações sobre serviços sociais para migrantes.

“Nesses primeiros dias, priorizamos o atendimento pré-natal às gestantes”, disse Elsa Soto, coordenadora do projeto de MSF. “As pacientes que temos atendido são todas venezuelanas, e a maioria das gestantes não havia recebido cuidados de pré-natal até o segundo trimestre de gravidez. Isso é preocupante, porque o pré-natal é essencial para prevenir e detectar complicações e doenças.”

As pacientes vinham de Riohacha, bem como de áreas rurais e cidades vizinhas, acrescentou Soto.

Ao longo de 2018, uma equipe de emergência de MSF respondeu às necessidades das pessoas que chegavam ao departamento de Norte de Santander, que faz fronteira com a Venezuela. Em novembro de 2018, MSF estruturou clínicas para a população migrante em hospitais e centros de saúde nas cidades de Tibú e Puerto Santander e no distrito de La Gabarra. Em janeiro de 2019, MSF abriu clínicas em Tame, Saravena e Arauquita, no departamento de Arauca.

Nestas clínicas, as equipes oferecem cuidados básicos de saúde para crianças e adultos, cuidados de saúde mental e cuidados de saúde sexual e reprodutiva, incluindo cuidados de pré e pós-natal, planejamento familiar e interrupção da gravidez.

Uma equipe de MSF em Tame está se concentrando em tratar pessoas que chegam a pé da Venezuela; dessas, mais de mil chegam por mês à Colômbia pela área de Arauca, a caminho de outras cidades colombianas ou países vizinhos.

Durante os três primeiros meses de 2019, as equipes de MSF realizaram mais de 9.800 consultas médicas com migrantes em áreas de fronteira da Colômbia; 40% delas para crianças com menos de cinco anos de idade. Quase 2.300 consultas foram para planejamento familiar e 71 para término de gravidez. Tais números indicam uma necessidade urgente de expandir o acesso a cuidados médicos para migrantes e refugiados venezuelanos, especialmente para saúde sexual e reprodutiva.

“As patologias que estamos vendo nas clínicas de Norte de Santander e Arauca são doenças de pele, infecções do trato respiratório, condições musculoesqueléticas, infecções do trato urinário e condições ginecológicas, além de doenças crônicas que não eram tratadas adequadamente na Venezuela”, disse María José Usach, coordenadora-médica de MSF na Colômbia.

Essas condições de saúde são muitas vezes agravadas pelas condições de vida precárias dos migrantes e refugiados venezuelanos, disse Usach. O componente psicológico também é muito importante, porque a migração pode afetar profundamente a vida diária e o senso de dignidade de uma pessoa. Até agora, neste ano, psicólogos de MSF trataram 450 pessoas, cujos sintomas geralmente incluem ansiedade ou depressão.

“A chegada maciça de venezuelanos à Colômbia excedeu a capacidade de resposta local”, disse Ellen Rymshaw, coordenadora-geral de MSF na Colômbia. “O sistema de saúde colombiano não consegue lidar sozinho com as necessidades dos cerca de 1 milhão de venezuelanos que vivem no país, de modo que o financiamento internacional é essencial para garantir o acesso adequado a cuidados de saúde.”

A insegurança também é uma preocupação para as pessoas nas áreas de fronteira, por causa da presença de grupos criminosos e integrantes do Exército de Libertação Nacional (ELN) e do Exército Popular de Libertação (EPL).

“Confrontos e outras situações de violência relacionadas à presença de diferentes atores armados nas áreas de fronteira de Arauca e Norte de Santander afetam uma grande parte da população venezuelana e tornam mais complexa a oferta de ajuda às áreas rurais”, disse Rymshaw.

O acesso a cuidados médicos e subsídios se deteriorou na Venezuela devido a crises políticas, econômicas e sociais agudas, levando mais de 3,4 milhões de venezuelanos a deixar o país nos últimos anos.

Carla M., 32 anos, que chegou a Tibú no final de 2018 com seus três filhos, descreveu como eles deixaram sua casa em Ciudad Ojeda, na Venezuela, quando não podiam mais pagar por três refeições por dia.

“Nós já tínhamos reduzimos as porções ao máximo, já tínhamos vendido tudo, a geladeira, a mobília”, disse ela. “Eu costumava trabalhar vendendo mantimentos em uma loja, depois como vendedora ambulante, mas agora não tinha nada para vender. O salário do meu marido, um funcionário da Petróleos de Venezuela (PDVSA), não era mais suficiente para comprarmos comida.”

Carla e sua família atualmente moram em uma tenda improvisada em um terreno em Tibú, e ela leva sua filha ao hospital de MSF para tratamento de uma doença de pele.

“Os hospitais na Venezuela carecem de enfermeiros e de muitos recursos”, disse ela. “Não havia vacinas para os pequenos, ou todas as doses necessárias, ou não chegavam a todos.”

MSF trabalha na Colômbia desde 1985 e atualmente trabalha em cinco regiões: La Guajira, Norte de Santander, Arauca, Buenaventura e Nariño, onde MSF tem uma equipe de emergência. MSF é uma organização médica-humanitária internacional independente que trabalha em mais de 70 países, oferecendo atendimento a pessoas necessitadas devido a conflitos armados, catástrofes naturais, epidemias ou exclusão dos serviços de saúde.
 

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