Ciclone em Mianmar: MSF tenta ampliar ação de emergência

Em entrevista, o chefe de missão da organização no país, Souheil Reaiche, conta como está sendo realizada a intervenção

Que tipo de assistência já conseguimos oferecer?
Souheil Reaiche – Na segunda-feira, distribuímos itens emergenciais, que incluem lâminas plásticas para abrigos, para milhares de pessoas. Conseguimos também distribuir rações de comida para uma semana para 2 mil pessoas na área de Twantey, localizada a duas horas de Yangon. Nós também distribuímos óleo diesel para escolas e monastérios que têm poços para acessar água, mas não têm mais combustível para as bombas. Também distribuímos comida para 350 pessoas que procuraram abrigo em um monastério.

As necessidades são muito grandes e nós tentamos combinar nossos levantamentos e ações para ganhar tempo. Quando as equipes foram analisar a situação em Twantey, levaram kits de emergência e uma tonelada de comida. Essa é uma ação para salvar vidas. Nós vamos mandar uma equipe composta por um médico, dois logísticos e um tradutor para o sul, na área de Bagaley, que fica há sete horas de carro de Yangon. Essa região costeira ficou muito destruída. Caminhões transportando itens básicos de emergência estão prontos para viajar com a equipe.

O que as equipes têm visto no terreno?
Reaiche – As pessoas estão muito traumatizadas. Um marinheiro nos contou que seu vilarejo foi completamente destruído. Ele disse que não tem nenhum notícia dos 4 mil habitantes de um vilarejo vizinho, que ainda está debaixo das águas. As pessoas contam histórias de como passaram a noite do ciclone, penduradas nas árvores por toda a noite, enquanto observavam seus vilarejos serem destruídos.

Elas dizem que Mianmar nunca viu uma catástrofe como essa. Eles perderam tudo e têm poucas esperanças de receber assistência. Nas áreas de Twantey e Dalla, 80% dos vilarejos foram destruídos. Alguns ainda estão debaixo d'água e estão inacessíveis. Todas as construções de bambu foram destroçadas pelos ventos. Elas representam a maioria das casas nesses vilarejos. Um terço da cidade de Twantey também foi destruída.

Constatamos também que é impossível chegar às áreas que ainda estão alagadas. Elas só podem ser acessadas por barco e todas as embarcações locais foram destruídas. Nós estamos procurando barcos em Yangon para trazê-los aqui.

Em Yangon, nossas equipes conseguiram avaliar a situação em áreas diferentes, incluindo a região de Okalapa, onde 4 mil pessoas vivem em cinco quilômetros quadrados. Eles não têm acesso à água potável porque os poços estão inundados ou sujos, ou não há combustível para a bomba puxar água. Então, eles são obrigados a beber água do rio. Para lidar com esse problema, demos início a um programa de distribuição de água.

Quais são as principais prioridades?
Reaiche – Alimentos, abrigos e acesso a água limpa são críticos. A população afetada pelo ciclone já estava vulnerável. Agora, eles vivem sob condições extremamente precárias, sem comida, água potável e freqüentemente dormindo ao relento. Além disso, a malária e a dengue são prevalentes nessa área. Estamos planejando uma distribuição de mosquiteiros nos próximos dias.

Quais são as dificuldades enfrentadas?
Reaiche – Nós não tivemos nenhuma restrição para fazer nossos levantamentos ou distribuições iniciais. Nós continuamos a oferecer assistência humanitária para as pessoas afetadas e vamos ampliar nossos levantamentos. No entanto, é claro hoje que, com os recursos limitados que temos, tanto em termos de pessoas quanto de materiais, não temos agora como responder de maneira adequada a essas necessidades da população.

Após o apelo do governo por assistência internacional, é essencial que os vistos emergenciais sejam concedidos e que os carregamentos de materiais emergenciais tenham autorização para entrar no país. Outras equipes de MSF estão a postos há 48 horas, esperando por vistos, para poder vir nos ajudar no Delta.

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