Chade: MSF procura deslocados que fugiram após ataque

Médicos Sem Fronteiras teve informação do paradeiro de alguns chadianos e de 33 integrantes de sua equipe local que haviam desaparecido após um ataque em Koloye

Na sexta-feira, 17 de novembro, a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) recebeu a informação que cinco mil deslocados internos do Chade haviam deixado a cidade de Koloye, no leste do país, após um ataque. Não havia informação sobre o paradeiro deste grupo, que incluía 37 funcionários locais de MSF.

Desde então, MSF soube que alguns deslocados internos foram para Adé e Kumu, dois vilarejos mais ao Norte, acompanhados pela população das cidades vizinhas. Ainda não há informação sobre o paradeiro de quatro dos 37 funcionários de Médicos Sem Fronteiras. O chefe de missão no Chade, Filipe Ribeiro, conta como está a situação no país.

O que aconteceu no vilarejo de Koloye na semana passada?

Na quinta-feira, alguns integrantes da nossa equipe de Dogdoré foram para Koloye para providenciar assistência médica aos deslocados internos. Nós não tínhamos uma presença fixa no local desde o dia 25 de outubro porque tivemos de deixar a área devido a questões de segurança. No entanto, nossa equipe local continuou a coordenar a rede de distribuição de água potável que havíamos implementado. Ao longo da estrada, nossa equipe observou que entre 20 a 30 quilômetros antes de chegar a Koloye, as vilas haviam sido parcialmente incendiadas e os moradores haviam abandonado os locais. Ao chegarem mais perto de Koloye, eles viram sapatos, panelas e utensílios abandonados de qualquer maneira, na beira da estrada, indicando a fuga da população. Quando chegaram em Koloye, viram que todos os tulkus – as casas – da vila haviam sido incendiadas. A clínica de MSF foi saqueada e nós encontramos vestígios de curativos com sangue, um sinal de que as pessoas se machucaram durante os confrontos. A farmácia foi destruída. As tendas e tanques de água haviam desaparecido ou foram destruídos. Não havia mais medicamentos ou suprimentos.

Eles encontraram apenas duas mulheres no local, que haviam voltado para recolher seus pertences. Os cinco mil deslocados haviam desaparecido completamente. O número incluía 37 integrantes de nossa equipe local. Ficamos particularmente preocupados porque o nível de insegurança estava aumentando e se espalhando na região. Essas populações – que foram obrigadas a deixar suas cidades há meses e acharam em Koloye uma possibilidade de refúgio – tiveram de fugir novamente devido à violência. As duas mulheres nos contaram que os agressores as ameaçaram e que ninguém – nem mesmo MSF – deveria voltar a Koloye.

Desde esse dia, MSF obteve informação sobre alguns dos deslocados e sobre 33 de nossos funcionários.

Trinta e três pessoas, integrantes de nossas equipes, conseguiram fugir para Adé, Kumu e Dogdoré. Um ferido está recebendo tratamento em Adé e está esperando a evacuação. Ainda não temos notícias de quatro dos nossos 37 funcionários. Além disso, também ficamos sabendo que um diarista que trabalhou conosco em Koloye foi assassinado.

Nós queremos chegar a Adé o mais rápido possível, mas a crescente insegurança existente na região nos impede de fazer isso. Nossa equipe em Goz Baïda conseguiu chegar lá ontem para realizar uma avaliação inicial da situação dos deslocados.

O que eles viram em Adé?

Baseado no que temos conhecimento hoje, há seis mil deslocados em Adé, mas não temos como saber quantos vieram de Koloye. Aparentemente, moradores de outras vilas – entre as quais Faradjani, Marmadengue e Kerwajb, que também foram incendiadas pelos agressores – juntaram-se aos moradores de Koloye na luta. Eles se instalaram em um grande campo com poucas árvores, localizado atrás do mercado. As famílias reuniram-se baseadas em seus vilarejos de origem. Eles cortaram a grama e montaram abrigos sem tetos. A maioria deles não tem cobertores ou colchonetes. Alguns têm utensílios de cozinha. Poucos tiveram tempo de recolher seus pertences antes de fugir.

Dez pacientes aguardavam atendimentos no centro de saúde. Nós também voltamos para a clínica que havíamos implementado na última primavera, onde estão 12 feridos sem gravidade do ataque de Koloye. Um precisa de uma transferência de emergência. Esses centros têm alguns suprimentos – esparadrapos e gaze -, mas poucos remédios. Nós vamos reabastecer a unidade de saúde com medicamentos e garantir que a população vai ter acesso à comida.

Esses ataques indicam uma mudança na situação do leste do Chade?

Desde dezembro de 2005, o leste do Chade é palco de confrontos entre o Exército do governo e os rebeldes chadianos. Além deste violento conflito, homens armados conduziram as incursões. Muitas pessoas ficaram feridas e centenas que viviam nos vilarejos próximos à fronteira foram forçados a pegar a estrada. Diversas ondas de deslocados tomaram as cidades no interior do país, como Koloye e Dogdoré, onde temos oferecido assistência médica. Outras equipes de MSF também estão ajudando os deslocados em Borota, Gurgur e, mais recentemente, em Kerfi.

Atualmente, estamos observando um aumento do número de ataques e saques a vilas em toda região de Dar Sila. Por exemplo, os deslocados de Koloye já deixaram suas vilas devido à violência. Eles tiveram de partir de novo e estão vivem, mais uma vez, em condições precárias, enquanto a violência se expande na região.

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