Bouar, RCA: condições de vida de deslocados são extremamente precárias

Aumento dos níveis de violência força pessoas a fugir e prejudica seu acesso a itens essenciais como água

Bouar, RCA: condições de vida de deslocados são extremamente precárias

A cerca de 150 quilômetros da fronteira com Camarões, no oeste da República Centro-Africana (RCA), a cidade de Bouar vive com medo desde que se tornou, no final de dezembro, um dos palcos do último ciclo de violência no país, onde uma coalizão de grupos armados e o governo apoiado por seus aliados internacionais estão se enfrentando. A situação é particularmente crítica para os milhares de pessoas que fugiram de suas casas para se refugiar em vários locais religiosos e lotes de terra na cidade.

“Não sei para onde ir, porque os rebeldes instalaram sua base no meu bairro. É muito difícil viver aqui com o meu bebê, que só tem um mês de vida. Dormimos ao relento, no frio, sem mosquiteiro”, explica Rolande, uma jovem deslocada. “Meu filho está doente, mas não posso levá-lo ao hospital por causa da insegurança e não tenho dinheiro para pagar o tratamento”, acrescenta.

Localizada em uma importante estrada de abastecimento para Bangui, a capital, o controle de Bouar é muito estratégico para as partes em conflito. No dia 9 de janeiro de 2021, atores armados formaram a nova coalizão rebelde “Coalizão dos Patriotas para a Mudança” (CPC) e atacaram posições das Forças Armadas da África Central (FACA) e da Missão de Manutenção da Paz das Nações Unidas (MINUSCA) na cidade. Os confrontos foram intensos e ocorreram em áreas densamente povoadas de Bouar. Combates violentos estouraram novamente no dia 17 de janeiro.

Desde então, mais de 8 mil pessoas, incluindo muitas famílias e crianças pequenas, foram forçadas a deixar suas casas. Quase metade deles vive atualmente na antiga catedral da cidade, o maior dos seis campos improvisados para deslocados onde Médicos Sem Fronteiras (MSF) acaba de iniciar uma atuação de emergência.

“É uma miséria total. As condições de vida nos locais que hospedam deslocados internos são deploráveis, principalmente devido à falta de acesso suficiente à água”, disse Tristan Le Lonquer, coordenador-geral de MSF na RCA. “A rede de abastecimento de água não funciona mais e os poucos poços acessíveis na cidade não são suficientes para atender todas as necessidades dos deslocados, então, existe uma escassez de água real”, acrescenta.

MSF está instalando pontos de coleta de água, construindo chuveiros e latrinas e levando clínicas móveis para fornecer cuidados básicos de saúde a todos os deslocados que precisam. Desde o início das atividades, para além dos 20 mil litros de água disponibilizados por dia, nossas equipes realizaram 672 consultas em todos os locais que abrigam os deslocados e encaminharam para o hospital sete pessoas que necessitavam de mais cuidados médicos. Distribuímos kits de primeira necessidade (não alimentícios) para 250 famílias. MSF também está oferecendo apoio contínuo às estruturas médicas locais, principalmente no bloco cirúrgico do hospital Bouar, onde tratamos, em colaboração com o Ministério da Saúde, um total de nove feridos de guerra após os violentos combates em 9 e 17 de janeiro de 2021.

Os milhares de deslocados que fugiram dos combates e da crescente insegurança à medida que os rebeldes avançam estão agora encurralados entre a necessidade de fugir do perigo e a necessidade de cuidar de suas propriedades. Aqueles que decidiram ficar são vítimas de desaparecimentos forçados, roubo e extorsão por homens armados que agora controlam parte da cidade. Esta violência não poupou os atores humanitários e as infraestruturas, que foram alvo de vários saques e tiveram que reduzir ou suspender as suas atividades enquanto as necessidades aumentam.

Os deslocados em Bouar estão enfrentando uma crise sem precedentes e uma resposta humanitária eficaz e coordenada é urgentemente necessária.

 

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