Bloqueio limita acesso à assistência para população de Djibo, em Burkina Faso

Violência no país já forçou quase 2 milhões de pessoas a fugir de suas casas.

Burkina Faso está passando por uma crise humanitária sem precedentes. Quase 2 milhões de pessoas deslocadas internamente fugiram da violência perpetrada por grupos jihadistas*. A cidade de Djibo, no norte do país, está sob bloqueio de grupos armados não estatais há mais de um ano e continua praticamente isolada do acesso a alimentos e assistência.

A movimentação da população é restrita, e o acesso aos serviços básicos tem sido severamente afetado. As pessoas têm vivido com pouca comida, água, eletricidade e meios limitados de comunicação.

Os conflitos em curso entre as forças de defesa e segurança de Burkina Faso e os grupos armados não estatais nos arredores de Djibo resultaram em um grande fluxo de pessoas que buscam refúgio na cidade. Dos 300 mil habitantes, quase 270 mil – 269.894, segundo o Conselho Nacional de Assistência e Reabilitação de Emergência (CONASUR) – estão internamente deslocados. Metade deles são crianças, vivendo em acampamentos ou com famílias locais.

Presas no conflito, as comunidades, que sobrevivem por meio da assistência humanitária, têm suas condições de vida agravadas rapidamente. Os recursos são tão escassos que, por longos períodos, as pessoas precisaram comer folhas para sobreviver. Há dificuldades até mesmo para encontrar sal.

“Eu não tinha mais nada para alimentar meus filhos.”
– Safi, 30 anos, deslocada interna e mãe de cinco filhos.

Safi deixou o vilarejo de Yalanga, a 100 km de Djibo, com toda a família. O marido foi morto no caminho por grupos armados. A vida diária dela é marcada pelas distribuições de suprimentos do Programa Alimentar Mundial, enquanto procura pequenos trabalhos domésticos para sobreviver.

“Está ficando um pouco melhor hoje em dia”, disse Safi, em 21 de março, quando um comboio de alimentos e itens essenciais finalmente conseguiu chegar em Djibo, sob escolta armada, quatro meses após os últimos suprimentos terem alcançado a cidade. A melhoria é notável, mesmo que os efeitos combinados da crise alimentar e de segurança permaneçam preocupantes.

Distribuição de suplementos para prevenir a desnutrição

As dificuldades de acesso à cidade de Djibo levaram a uma crise alimentar e nutricional alarmante, cuja dimensão é difícil de mensurar. Com informações insuficientes sobre o estado nutricional da população, os atores de assistência trabalham para adaptar suas respostas. Desde os primeiros alertas em outubro de 2022, várias organizações se mobilizaram, mas o apoio ainda é insuficiente.

As atividades nutricionais implementadas nas últimas semanas estão respondendo às necessidades das crianças com desnutrição, mas a falta de alimentos e perspectivas para os próximos meses segue profundamente crítica.

Nos dias 8 e 9 de abril, equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) distribuíram 57 toneladas de barras de nutrição, chamadas BP-5, para 12.456 crianças entre 6 meses de vida e 5 anos de idade, o que equivale a um mês de alimentação.

Moradora atendida por MSF segura uma caixa de BP-5 durante distribuição do suplemento para as comunidades. Foto: Nisma Leboul/MSF

Os biscoitos BP-5 são usados como suplemento nutricional para prevenir a desnutrição em crianças (um alimento fortificado com alto valor energético à base de cereais: farinha de trigo cozida, gordura, óleo vegetal, açúcar, proteína de soja, vitaminas e minerais). Essa distribuição contribuiu temporariamente para responder às necessidades imediatas de uma grande parte da população.

Dificuldade na prestação de cuidados de saúde

O acesso aos cuidados de saúde também é fortemente afetado pelo bloqueio: a maioria da equipe médica foi embora, e as dificuldades na obtenção de medicamentos levaram ao fechamento de várias instalações. As que permanecem em funcionamento estão operando com capacidade mínima, com potencial limitado para responder a uma população já extremamente vulnerável. “Estamos vivendo em grande sofrimento”, disse um líder comunitário.

Desde 2018, MSF, em colaboração com o Ministério da Saúde, apoia o centro médico de Djibo com uma unidade cirúrgica, dois postos de saúde avançados e três locais de saúde comunitários.

No centro médico, o paciente e a família dele recebem três refeições por dia. Na instalação, a unidade cirúrgica e a sala de emergência funcionam de forma autônoma, graças aos painéis solares instalados por MSF.

MSF também está trabalhando na reabilitação de pontos de água e na construção de poços, facilitando o acesso à água potável para os habitantes e reduzindo os riscos para as mulheres, que não precisarão mais caminhar longas distâncias para buscar água.

Hamadoum Moussa, supervisor de promoção da saúde de MSF, explica que o apoio também se estendeu aos profissionais da organização. “Além do que MSF está fazendo pelo povo de Djibo, também fomos apoiados. Não se esqueça de que essa situação teve um impacto sobre nós e nossas famílias também”, diz ele. No ápice do bloqueio, suprimentos de alimentos foram fornecidos para garantir o abastecimento de nossas equipes, que continuaram a trabalhar para atender às necessidades das pessoas na região. Apesar do contexto extremamente difícil, a solidariedade e a coesão social prevalecem na cidade e em nossas equipes.

*Dados do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), em 31 de março.

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