Bebês prematuros dividem incubadoras na UTI neonatal do hospital Al-Helou no norte de Gaza

Em 14 de julho de 2025, um recém-nascido morreu por conta da interrupção do oxigênio, após um corte de energia

Devido aos bloqueios e a falta de equipamentos médicos, profissionais precisam acomodar vários bebês na mesma incubadora para mantê-los vivos. © Joanne Perry/MSF

Enquanto bebês prematuros lutam por suas vidas, as equipes médicas em Gaza estão trabalhando em meio a falta de equipamentos e suprimentos essenciais, como aparelhos de ultrassom, incubadoras, suprimentos médicos e até mesmo fórmulas infantis para prematuros.

A seguir, a médica Joanne Perry, compartilha sua experiência no tratamento de bebês prematuros na unidade de terapia intensiva neonatal do hospital Al-Helou, apoiado pela organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), no norte de Gaza:

“Começou com dois bebês compartilhando uma incubadora, o que já é completamente inaceitável e terrível de se ver. Depois, aumentou para três e, na semana passada, vimos cinco bebês em uma mesma incubadora. Com todos os ataques às instalações de saúde, hoje existem apenas 36 incubadoras no norte de Gaza, das 126 unidades que tínhamos disponíveis antes de outubro de 2023.

Ter vários bebês compartilhando uma incubadora aumenta muito as chances de infecção. O sistema imunológico dos recém-nascidos, especialmente os prematuros, ainda não está formado.

Uma das razões pelas quais estamos vendo tantos bebês prematuros é a deterioração da saúde das mães. Esta é a minha terceira vez trabalhando no território no último ano, e o que está diferente agora é que as gestantes estão com peso muito abaixo do normal e anemia aguda. Isso pode contribuir para complicações durante a gravidez, incluindo parto prematuro. Além disso, as gestantes estão vivendo em condições horríveis: em abrigos superlotados ou barracas, com acesso extremamente limitado a água limpa para se lavar.

Muitas não têm acesso a cuidados pré-natais por conta dos repetidos deslocamentos e das instalações de saúde estarem com o funcionamento limitado. Isso significa que gestações de risco muitas vezes não são detectadas até que surjam complicações, às vezes tarde demais.

Estamos vendo bebês nascidos prematuramente e com problemas de saúde que poderiam ter sido evitados com o monitoramento básico, como o diagnóstico de pneumonia ou anomalias cardíacas, que podem ser tratadas de forma eficiente com medicamentos. Mas não temos os equipamentos necessários na UTI neonatal, como máquina de ultrassom, raios-X e, muitas vezes, nem mesmo o material para coleta de sangue que necessitamos.

A equipe médica em Al-Helou enfrenta inúmeros desafios diariamente. O combustível está no topo da lista, já que todos os hospitais de Gaza funcionam com geradores a diesel. A escassez de combustível leva a cortes de energia e tem causado a morte de recém-nascidos que dependem de oxigênio. Infelizmente, na noite de 14 de julho de 2025, um bebê morreu por conta da interrupção do aparelho de oxigênio após mais um corte de eletricidade no território.

A falta de suprimentos é outro problema grave. Eles são tão limitados que temos que prolongar o tempo entre as trocas de fraldas, o que pode causar assaduras. Estamos sempre prestes a ficar sem estoque de fórmula infantil. Promovemos a amamentação e temos orgulho de ser um hospital com essa incentiva, mas, nessa situação, muitas mães não podem ficar para amamentar seus bebês regularmente. Muitas vezes, elas precisam cuidar do resto da família ou não têm dinheiro suficiente para o transporte e precisam caminhar por horas para ir e voltar.

É de partir o coração. Ter um bebê deveria ser um momento de alegria e esperança. Mas, agora, para muitas famílias em Gaza, o sentimento é de medo. Apesar de todos os obstáculos, a equipe está trabalhando em conjunto com recursos cada vez mais escassos para fornecer o melhor atendimento possível aos bebês recém-nascidos.”

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