Atuação de MSF na Venezuela

A coordenadora de operações de MSF Kristel Eerdekens conta como estamos atuando na Venezuela

Saúde mental na Venezuela

A Venezuela tem estado em evidência nas últimas semanas, à medida que as disputas políticas alcançam novos patamares. Isso vem depois de anos de crises econômicas e políticas que tiveram um grande impacto no dia a dia das pessoas. MSF presta assistência médica na Venezuela desde 2015. Kristel Eerdekens, coordenadora de operações de MSF, descreve o trabalho de MSF no país.

O que MSF está fazendo na Venezuela?

“Hoje, MSF possui quatro programas médicos na Venezuela. Trabalhando em conjunto com organizações locais e instituições públicas, prestamos assistência médica e psicológica às vítimas de violência e violência sexual em Caracas, uma das cidades mais violentas do mundo. Promovemos uma abordagem abrangente, combinando cuidados médicos e psicológicos, nos quais a violência sexual é vista como uma emergência médica.

Nos últimos anos, também apoiamos o programa de combate à malária no município de Sifontes, no estado de Bolívar – uma área com muitas minas de ouro informais, que atraem pessoas de todo o país. A malária espalhou-se rapidamente pela região devido à população altamente móvel, às más condições em que vivem e a um programa de controle de malária com poucos recursos. Em 2018, equipes de MSF testaram 220.354 pessoas para malária e trataram 137.936 pessoas com a doença. Também distribuímos 20.000 mosquiteiros e pulverizamos 3.900 residências para evitar novas infecções.

Desde fevereiro de 2019, uma equipe de MSF está baseada em Carupano, no estado de Sucre, trabalhando com o Instituto da Malária para apoiar o programa nacional de combate à malária na Venezuela.  

Através de uma organização médica local parceira, também oferecemos apoio a um programa de cuidados de saúde primária com enfoque na saúde sexual e reprodutiva no norte do país. Embora esteja em sua fase inicial, o programa oferece apoio muito necessário para uma população que está enfrentando uma grave escassez de medicamentos. MSF esteve envolvida no fornecimento de apoio similar na cidade de Maracaibo de 2016 até fevereiro de 2018.

Em tempos de incerteza, estamos também alertas e prontos para responder a possíveis surtos de violência e às consequências médicas das crises econômicas, sociais e políticas. Nós já fizemos – e  podemos continuar a fazer – doações de suprimentos médicos para hospitais em várias partes do país para ajudá-los a lidar com uma possível deterioração aguda da situação. Também treinamos equipes médicas locais para lidar com o recebimento de feridos em massa e fornecemos primeiros socorros psicológicos para grupos da defesa civil e de resgate voluntário.

Em 2018, MSF também prestou assistência médica e psicológica às pessoas afetadas pelas inundações em Caicara del Orinoco, no estado de Bolívar, e em Churuguara, no estado de Falcón. ”

Qual é a situação médica no país?

“A Venezuela está passando por uma crise econômica e política que afeta todas as camadas da sociedade. É um ambiente difícil para MSF trabalhar, pois só temos equipes presentes em alguns locais. Por isso, é difícil fornecer uma descrição completa das necessidades médicas no país. Desde 2015, os dados médicos publicados têm sido muito limitados, dificultando uma análise mais geral.

Nos locais onde trabalhamos, vemos profissionais de saúde dedicados e qualificados fazendo o melhor que podem para atender suas comunidades, apesar de todas as limitações. Eles enfrentam a interrupção do fornecimento de suprimentos e fornecimentos irregulares de medicamentos, ao mesmo tempo em que a manutenção de equipamentos médicos e infra-estrutura é quase inexistente. A hiperinflação que ocorre no país e a falta de investimento no sistema de saúde tornam difícil oferecer cuidados de qualidade. Também vemos profissionais médicos – inclusive de nossas próprias equipes – que decidem deixar o país.

Isso levou a um aumento dos casos de doenças que antes estavam sob controle, como malária e surtos de doenças evitáveis, como difteria e sarampo. Nos anos 60, a Venezuela foi pioneira na erradicação da malária e ainda tem o conhecimento e as instituições para fazê-lo. No entanto, as áreas mais afetadas pela malária também estão lutando com um sistema de saúde sob tensão significativa, o que tem tido impacto no programa de controle da malária.

Em Maracaibo, onde trabalhamos até fevereiro de 2018, também vimos que a falta de serviços médicos causou atrasos nas intervenções obstétricas e cirúrgicas de emergência.

Os venezuelanos que cruzaram a fronteira do Brasil e da Colômbia e receberam assistência médica de nossas equipes relatam que a escassez de alimentos e a falta de acesso a cuidados de saúde de qualidade foram suas razões para deixar o país.”

Quais são os planos futuros de MSF?

“MSF continua comprometida em oferecer assistência médica ao povo venezuelano, de acordo com as necessidades identificadas. Estamos determinados a fortalecer nossas atividades existentes e encontrar maneiras de expandi-las sempre que possível. Se necessário, também continuaremos a oferecer apoio médico aos venezuelanos que deixaram o país para ir para Brasil, Colômbia ou outros lugares da região.

Todo o financiamento para o trabalho de MSF na Venezuela vem de doações privadas de indivíduos em todo o mundo – nada vem de governos. Essa é uma das várias medidas que tomamos para garantir nossa independência de interferência política, que é crítica em um ambiente tão polarizado.”

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