África do Sul: “a próxima geração pode ser livre de HIV”

Na cidade de Eshowe, na África do Sul, 1 em cada 4 pessoas com idades entre 15 e 59 anos vive com HIV

África do Sul: “a próxima geração pode ser livre de HIV”

Slindile faz parte da equipe de MSF que tenta combater o vírus e está baseada em uma clínica da faculdade local, onde os estudantes podem fazer o teste, receber aconselhamento e iniciar o tratamento de HIV, tudo sem sair do campus.

“O HIV é um grande problema aqui; esta é uma área de alta transmissão e por isso encontramos números realmente altos de pessoas vivendo com HIV. A verdade é que todos estão infectados ou são afetados, por isso é importante oferecer serviços de teste e tratamento. O Eshowe College tem um esquema interessante que permite e incentiva o teste e o tratamento para aqueles que vivem com o vírus. 

As pessoas chegam à nossa clínica com alguma doença ou questão relacionada à saúde – ela não precisa estar relacionada ao HIV. Elas são atendidas na sala ao lado da minha – a primeira que você vê quando entra na instalação. O conselheiro irá fornecer informações e sugerir que elas façam os testes de HIV (ao mesmo tempo, também temos mobilizadores trabalhando no colégio, incentivando as pessoas a fazer o teste). Em seguida, o conselheiro testa qualquer um que deseje ser testado, antes de passar quaisquer casos positivos para mim. Eu então gerencio esses casos positivos e ofereço os antirretrovirais. Os antirretrovirais são uma classe de medicamentos altamente eficazes na redução dos níveis de HIV, permitindo que as pessoas levem vidas saudáveis.

De fato, muitas pessoas não chegam à clínica para fazer o teste de HIV, embora este seja um grande foco para nós aqui. Ainda existe algum estigma e alguns equívocos em torno do HIV, por isso é importante que facilitemos o acesso dos jovens aos cuidados de saúde.

Vemos cerca de 20 pessoas por dia, principalmente para triagem de infecções sexualmente transmissíveis, planejamento familiar e tratamento do HIV; mas os estudantes podem vir por qualquer doença menor. Nós pensamos que se oferecêssemos apenas testes de HIV, os pacientes poderiam não vir, então essa configuração realmente funciona para nós. Ninguém é forçado a fazer o teste. Nós fornecemos informações para todos, e então as pessoas tomam uma decisão sobre se querem ser testadas ou não.

Eu amo trabalhar com jovens. Eu tenho trabalhado especificamente com jovens por seis ou sete anos, então eu conheço seus truques – a maneira como eles pensam, suas atitudes, eles sempre acham que sabem mais do que você. Nada me surpreende mais! Eu costumava pensar da mesma maneira sobre meus pais – ninguém acha que seus pais passaram pelas mesmas fases na vida.

As pessoas que atendemos são crianças, elas estão com medo – elas só precisam de motivação e encorajamento para fazer o teste e aprender sobre o HIV. Os homens, em especial, parecem não ter tempo para a clínica, de modo que não entrarão a menos que se sintam doentes. Por isso é importante que existam agentes mobilizadores na faculdade, que são uma parte crucial da equipe. Os mobilizadores encorajam os estudantes a fazer o teste, dão educação sobre a prevenção do HIV e fornecem preservativos gratuitos. Os jovens sabem onde conseguir ajuda porque os mobilizadores dizem a eles.

No entanto, trabalhar em uma faculdade apresenta seus próprios desafios. Estamos alcançando especificamente os alunos aqui, então depois de três ou seis meses, eles podem sair quando terminarem seus estudos. Se alguém está saindo, nós escrevemos uma carta de transferência para que eles possam continuar o tratamento e coletar sua medicação perto de suas casas.

A adesão desses jovens ao tratamento é geralmente muito boa. Trabalhamos com conselheiros leigos que fazem aulas de adesão individualmente com cada pessoa; isso ajuda muito. Os estudantes aqui têm quase todos a carga viral suprimida, o que significa que os medicamentos estão funcionando e os níveis do vírus são extremamente baixos. Eu tive pacientes que vieram até mim depois que pararam de tomar a medicação para o HIV, porque acharam difícil levar a vida com as outras pessoas. Mas nós os recebemos de volta e estamos trabalhando com eles para manter seu tratamento.

No entanto, temos que corrigir equívocos e adicionar mais informações para que eles entendam melhor – algumas pessoas dizem que confiam em seu parceiro porque estão juntos há muito tempo e, portanto, fazem sexo desprotegido, mas sabem que seu parceiro não foi testado, por isso a confiança é cega. Temos que continuar a dizer-lhes que a confiança não é suficiente: você deve imaginar que todos têm HIV até que eles testem negativo, caso contrário, você estará em risco.

Estou esperançosa com o futuro, acho que as coisas estão melhorando. Agora existem crianças que nascem livres do HIV, mesmo tendo pais que vivem com o vírus – isso traz esperança.

Com o tratamento que estamos dando, contanto que a carga viral seja suprimida, a próxima geração pode estar livre do HIV.”

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