Acesso a medicamentos na OMC: países devem salvar vidas antes de celebrar o sucesso

Durante Conferência Ministerial Organização Mundial do Comércio (OMC), que acontece esta semana em Cancun, MSF lembra que países devem fazer uso das flexibilidades do Acordo TRIPS para ampliar o acesso de suas populações a medicamentos essenciais.

Um acordo sobre TRIPS e Saúde Pública firmado antes da Conferência Ministerial Organização Mundial do Comércio (OMC), que acontece esta semana em Cancun, está sendo celebrado como uma vitória para a OMC. Embora o acordo prometa que será mais fácil para os países terem acesso a medicamentos genéricos mais baratos, Médicos Sem Fronteiras (MSF) acredita que as regras complexas do acordo possam de fato dificultar o acesso a medicamentos.

É necessário que os países coloquem o Acordo TRIPS à prova, se beneficiando por completo de todas as flexibilidades contidas no acordo para aumentar o acesso a medicamentos para suas populações. Países ricos devem também parar de minar a Declaração de Doha sobre TRIPS e Saúde Pública buscando acordos bilaterais e regionais de comércio, como o acordo da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), que impõe capítulos sobre propriedade intelectual para países em desenvolvimento limitando a capacidade de implementar a Declaração de Doha e de salvaguardar a saúde pública.

A entrada do Camboja na OMC em Cancun é um exemplo da necessidade contínua de defender a Declaração de Doha contra as pressões dos países ricos de impedir o uso das flexibilidades contidas no acordo TRIPS. O Camboja cita a Declaração de Doha na sua lei nacional de patentes de 2003, excluindo os produtos farmacêuticos da proteção de patente até 2016. Mas durante as negociações para a entrada do Camboja na OMC, aparentemente sob pressão dos Estados Unidos, o Camboja concordou em implementar uma legislação do tipo TRIPS-plus (mais rigorosa que o acordo TRIPS) que irá impedir ou atrasar o acesso de sua população a medicamentos genéricos.

“Acordos e declarações comerciais são uma coisa no papel, mas só significarão alguma coisa para os doentes quando os países começarem a colocá-los em prática,” disse Ellen ‘t Hoen, da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais de MSF. “Países devem agir rapidamente e usar a Declaração de Doha agora para terem acesso a medicamentos mais baratos para suas populações. A experiência que eles irão ganhar ao fazê-lo será testar os limites das regras da OMC, de suma importância para se rever as regras de patente da OMC após Cancun.”

Honduras é apenas um dos países que podem se beneficiar imediatamente adotando as flexibilidades já existentes no acordo TRIPS. Com o apoio financeiro do Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária, Honduras atualmente está comprando anti-retrovirais de marca para tratar 2.000 dos cerca de 3.500 a 6.000 hondurenhos que precisam de tratamento para o HIV/aids. MSF está tratando pessoas em Honduras com medicamentos genéricos por um terço do preço pago pelo governo hondurenho.

“Se o país usasse a mesma quantia, mas em medicamentos genéricos, seria possível para Honduras comprar medicamentos para todos os hondurenhos vivendo com HIV/aids que precisam de tratamento,” disse Morten Rostrup, Presidente do Conselho Internacional de MSF. “Honduras e outros países deveriam urgentemente fazer uso de todas as vantagens da Declaração de Doha para salvar mais vidas.”

Compartilhar
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on print