“Momentos que nos mostram o verdadeiro valor do nosso trabalho”

Beatriz Marcelino durante trabalho com MSF na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. ©Diego Baravelli/MSF

Beatriz Marcelino, técnica de enfermagem de MSF, compartilha sua experiência em projeto na Terra Indígena Yanomami

Há mais de dois anos, venho me dedicando ao projeto de Médicos Sem Fronteiras (MSF) na Terra Indígena Yanomami, na região de Auaris, em Roraima — uma experiência que tem me proporcionado muitos aprendizados e desafios.

Minhas atividades aqui são voltadas principalmente para o apoio que MSF dá ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Ye’kwana (DSEI YY) na resposta à malária. Acompanho o tratamento de pacientes em comunidades indígenas, colaboro com a assistência médica, apoio os promotores de saúde e contribuo para a coleta de dados epidemiológicos.

O projeto de MSF na Terra Indígena Yanomami começou em 2023, e minhas primeiras impressões na época foram muito marcantes. Lembro que fiquei muito impactada ao entrar no território pela primeira vez. A barreira linguística, as dificuldades de comunicação, a complexidade logística, as longas distâncias até as comunidades — tudo isso me fez entender que, apesar de termos ouvido muitos relatos, só compreendemos de verdade os desafios do trabalho quando chegamos lá.

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Quando o projeto começou, a comunicação entre a equipe era feita apenas por rádio ou por telefone via satélite, o que era bem complexo. Hoje, já temos acesso à internet na região, o que facilita muito a troca de informações com o restante da equipe, principalmente quando precisamos fazer atendimentos durante a noite.

Outra coisa que contribuiu muito para melhorar a oferta de saúde na Terra Yanomami foi a reforma do Polo Base de Auaris, coordenada e parcialmente financiada por MSF. As pessoas da região vão até o Polo para buscar atendimento de saúde, e a melhoria dessa estrutura permite que elas recebam cuidados médicos dentro do território, perto de suas comunidades e de suas famílias.

• Veja: com apoio de MSF, é inaugurada instalação de saúde na Terra Indígena Yanomami

Em nosso trabalho, vivenciamos todos os tipos de situações — desde atendimento para uma gripe simples até emergências graves, como casos severos de malária ou acidentes com cobras.
Um momento que me marcou profundamente foi quando eu e uma médica de MSF fomos chamadas para atender uma gestante que estava em trabalho de parto desde a noite anterior. Em cerca de 25 minutos de barco, chegamos à comunidade. Lá, encontramos várias mulheres reunidas, apoiando e orientando a gestante. Foi emocionante ver a força daquela rede de apoio.

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Quando o bebê nasceu, percebemos que todas aquelas mulheres haviam conduzido o parto com sabedoria e cuidado. Nosso papel foi apenas oferecer cuidados básicos para o bebê e para a mãe após o nascimento. Foi uma vivência linda e inesquecível.

As experiências e os aprendizados adquiridos aqui são extremamente valiosos. Temos a oportunidade de viver em contextos tão diversos, que nos ensinam, dia após dia, a lidar com nossos próprios limites, a cuidar da nossa saúde mental e a crescer — como profissionais e, acima de tudo, como seres humanos.

São momentos que nos mostram o verdadeiro valor do nosso trabalho.

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