Amor para aliviar a dor da perda

Eu vim para Serra Leoa em janeiro deste ano*. Como gerente de enfermagem, fui responsável pela equipe de unidades móveis (por aqui, chamamos de outreach). Nós vamos a vilarejos muito distantes e alcançamos populações que andam um dia inteiro para chegar a uma unidade de saúde. Infelizmente, aqui o índice de mortalidade materna e infantil é muito alto. O objetivo do nosso projeto é justamente reduzir essas taxas.

Nosso projeto construiu uma maternidade e um hospital para tratar crianças com desnutrição e atender mulheres que apresentam intercorrências na gravidez. Para que estas pessoas tenham acesso ao serviço de saúde, nós temos também uma ambulância nas áreas distantes que trazem os pacientes em estado grave até o hospital.

Muitas vezes, encontramos famílias nas quais uma das mulheres morreu sem conseguir chegar ao atendimento, deixando uma criança órfã. Geralmente, as avós são quem se encarregam dessas crianças. Em um ambiente onde o risco de HIV também está presente, já não é possível fazer como nos “velhos tempos”, quando uma vizinha ou alguém da família amamentava o bebê. Nessa situação, MSF também está provendo leite para crianças filhas de mulheres que faleceram nas áreas que cobrimos.

Uma história muito comovente é a da menina Osanatu. A mãe morreu ao dar à luz. Quem cria a criança é a avó. Nós não tínhamos conhecimento dessa situação até o dia em que a avó veio ao centro de saúde onde oferecemos suporte e contou que a mãe da criança tinha morrido, mas uma vizinha estava amamentando a menina. A comunidade local começou então a especular que a mulher que estava amamentando a criança também iria morrer como a mãe da criança morreu. Por isso, a mulher parou de amamentar Osanatu.

Quando nós visitamos a casa, ela era uma bebê quase em estado de desnutrição. MSF começou a doar leite e, hoje, Osanatu é uma menina saudável e maravilhosa. Foi uma experiência muito emocionante.

Compartilho com vocês as fotos de duas avós que perderam suas filhas e que dedicam todo o amor para criar os netos. Elas dizem que ajuda a curar a dor da perda das filhas e traz alegria para seus corações.

*Diário de bordo escrito em outubro de 2022.

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