A vida continua em meio à guerra

Juliana Costa durante trabalho com Médicos Sem Fronteiras no Sudão. ©Arquivo pessoal

A brasileira Juliana Costa compartilha seu trabalho como gerente de administração de MSF no Sudão, país em guerra há mais de dois anos.

Depois do meu primeiro projeto com Médicos Sem Fronteiras (MSF), eu fiquei com muita vontade de ir para o Sudão. Muitos colegas falavam do país e como representava o que é trabalhar em MSF. Então, na minha segunda viagem, tive a oportunidade de ir para o projeto na cidade de Zalingei, onde fiquei três meses trabalhando na parte administrativa. Foi uma experiência incrível, e pude atestar que os depoimentos que eu havia recebido sobre o projeto no Sudão eram verdadeiros.

Nossa rotina era bem restrita e, quando cheguei, a situação estava um pouco mais estável. Podíamos sair para o mercado que ficava logo na frente do hospital e caminhar em alguns lugares próximos. Porém, com o passar das semanas, a violência começou a se intensificar e, apesar de não sermos proibidos de sair, precisávamos ter mais cuidado e voltar mais rápido.

Casos de roubo na cidade começaram a aumentar. Quando havia reação, os assaltantes atiravam. Tivemos alguns casos de morte de pacientes, mas também de sobrevivência, como o de uma adolescente de 19 anos que levou um tiro na cabeça. Todos achavam que ela não resistiria, mas ela sobreviveu à cirurgia, iniciou sua recuperação e voltou  a se movimentar. Após algumas semanas, foi transferida para um hospital com mais recursos para continuar o tratamento.

Nessa onda de violência, a rotina do projeto sofreu alterações e tivemos que nos adaptar.

Mesmo sob tanta pressão e momentos difíceis, não se tratava apenas disso. Pude testemunhar  como a população local tem buscado sobreviver e continuar a vida, apesar dessa guerra.

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Além da jovem que eu mencionei, vi um bebê nascer com 800 gramas e sobreviver. Presenciei também um paciente que havia levado cinco tiros sobreviver à cirurgia e a uma bala que entrou na sala de recuperação e quase o atingiu.

Nossos profissionais contratados localmente também são incríveis. Vimos o comprometimento e doação deles para que a população pudesse receber tratamento e manter nosso projeto. Eles são muito acolhedores, gentis e amáveis.

O povo sudanês é um povo que tem sofrido muito. Tem testemunhado seu país ser destruído por essa guerra e briga de poderes. Mas que não desiste de viver, de ter uma vida e futuro melhores. De sonhar com isso e com um país melhor para seus filhos. A cada dia, víamos muitas crianças nascendo em nossa maternidade. Era muito lindo ver a vida continuando e resistindo em meio a guerra.

 

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