Envenenamento por picada de cobra

O envenenamento por picada de cobra mata mais pessoas do que qualquer outra doença na lista de Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O envenenamento por picada de cobra afeta os mais vulneráveis, geralmente aqueles que vivem em áreas rurais remotas, com uma correlação direta entre mortes por picada de cobra e empobrecimento.

As pessoas mais expostas a picadas de cobra são aquelas que moram em aldeias remotas, trabalham nos campos sem sapatos e dormem no chão em cabanas com paredes permeáveis, sem iluminação elétrica ou mosquiteiros.

1.

Definição

O envenenamento por picada de cobra (a condição médica resultante de uma picada de cobra) mata mais pessoas do que qualquer outra doença na lista de DTNs da OMS. De acordo com os números da organização, todos os anos, mais de cinco milhões de pessoas são mordidas por cobras, e entre 81 mil e 138 mil delas morrem. Isso é igual a cerca de 11 mil mortes por mês. Além disso, centenas de milhares de pessoas mordidas por cobras adquirem alguma deficiência, incluindo cegueira, dificuldades de locomoção e amputação. A picada de cobra também pode levar ao desenvolvimento de distúrbios psicológicos significativos, que vão desde pesadelos ao transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

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Causa

O envenenamento é causado pela picada de uma cobra peçonhenta (aquelas que são capazes de injetar seu veneno no organismo de uma presa ou vítima). Há mais de três mil tipos de cobras no mundo, das quais cerca de 200 são responsáveis pela maioria das mortes, ferimentos e deficiências.

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Tratamento

O envenenamento por picada de cobras venenosas podem matar ou mutilar pessoas rapidamente. Para reduzir o risco de morte e outros efeitos, as vítimas de picadas de cobra precisam chegar rapidamente a uma unidade de saúde que tenha profissionais treinados para diagnosticar e gerenciar picadas venenosas. Além disso, a unidade de saúde precisa ter soros antiofídicos de boa qualidade disponíveis. Casos graves também podem exigir fluidos intravenosos, suporte respiratório (incluindo fornecimento de oxigênio), controle de sangramento e tratamento de feridas. Alguns pacientes, principalmente aqueles que chegam ao atendimento tardiamente, podem apresentar danos teciduais tão graves que necessitam de cirurgia ou mesmo amputação do membro afetado.

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Diagnóstico

O primeiro sinal de uma picada de cobra é a própria picada, muitas vezes nos braços ou pernas da vítima, caracterizada pelas duas perfurações das presas da cobra. É importante que o tipo correto de cobra seja identificado, pois isso ajuda na escolha do soro antiofídico adequado. Nas clínicas de Médicos Sem Fronteiras (MSF), os pacientes costumam fazer isso usando fotos de cobras venenosas locais. Muitos pacientes ficam compreensivelmente atordoados imediatamente após uma picada e muitas vezes não conseguem se lembrar de sua forma ou características.

Se o paciente e a equipe médica não conseguirem identificar a cobra com base na lembrança ou na aparência da ferida, eles podem avaliar os sintomas do paciente, uma vez que eles variam de cobra para cobra. No entanto, essa abordagem tem suas próprias dificuldades, pois a composição do veneno pode variar dentro das espécies e até mesmo dentro das gerações da mesma espécie de cobras. Essa variação, portanto, produz potencialmente sintomas diferentes dos esperados.

Uma abordagem diagnóstica final é feita por meio de análises laboratoriais, que muitos lugares com poucos recursos não têm capacidade para realizar. O sangue de um paciente pode ser testado para vários padrões e anormalidades de coagulação, o que pode fornecer pistas sobre o tipo de cobra e a gravidade do envenenamento.

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Atividades

MSF trata cerca de seis mil vítimas de picada de cobra a cada ano, em projetos que abrangem 10 países. Quatro mil desses pacientes são encontrados em apenas cinco projetos: em Paoua, na República Centro-Africana; em Agok, no Sudão do Sul; em Abdurafi, na Etiópia; em Abs e Ibb, no Iêmen. Cerca de um terço de todos os pacientes precisam de tratamento com um antiveneno.

MSF concentra-se não apenas no gerenciamento de casos (tratamento antiofídico, ressuscitação e cirurgia), mas também em levantamentos epidemiológicos e relacionados à hepertologia (ramo da ciência que estuda répteis e anfíbios), para determinar quais espécies de cobras são as mais prevalentes para que o tratamento possa ser adaptado de acordo. MSF também trabalha ativamente junto aos ministérios da saúde e à OMS para melhorar o acesso a soros antiofídicos de qualidade a preços acessíveis e para aumentar o treinamento dos profissionais de saúde.

Em locais onde MSF oferece tratamento, sempre de forma gratuita, as pessoas picadas por cobras normalmente procuram por atendimento prontamente e têm boas chances de sobrevivência e recuperação.

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Desafios

  • Embora uma gestão clínica rápida e de qualidade possa salvar vidas, em localidades rurais remotas, muitas pessoas não conseguem chegar a tempo às unidades de saúde devido à falta de ambulâncias ou outros meios de transporte.
  • Nas unidades de saúde, o soro antiofídico muitas vezes não está em estoque ou pode ser de qualidade inferior, sendo ineficaz contra espécies de cobras locais.
  • Antivenenos de qualidade geralmente não estão disponíveis ou são muito caros para as pessoas pagarem.
  • MSF pede apoio para o desenvolvimento de ferramentas de diagnóstico rápido que permitirão a identificação de espécies de cobras e intervenções rápidas para salvar vidas

Esta página foi atualizada em fevereiro de 2023.