Iêmen: cuidados de saúde sob cerco em Taiz

A continuidade do conflito compromete cada vez mais o acesso a cuidados médicos; profissionais de saúde que trabalham no país correm grandes riscos

Iêmen: cuidados de saúde sob cerco em Taiz

Amsterdam/Taiz, 30 de janeiro de 2017 – Um relatório sobre cuidados médicos em tempos de guerra foi publicado hoje pela organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), com foco no impacto do atual conflito sobre a terceira maior cidade do Iêmen, Taiz.

O novo relatório de MSF se concentra tanto no impacto direto e mortal da guerra na vida da população civil de Taiz como no colapso dos serviços de saúde na cidade dividida, de acordo com observações das equipes de MSF em Taiz.

“A situação desesperadora de Taiz é um exemplo do que está acontecendo no Iêmen como um todo”, diz Karline Kleijer, coordenadora de emergência de MSF no Iêmen. “Em Taiz, as partes beligerantes regularmente demonstram falta de respeito pela proteção aos civis, instalações de saúde, profissionais de cuidados médicos e seus pacientes. Dos dois lados da frente de batalha, nossos pacientes relatam terem sido feridos por bombardeios enquanto preparavam o almoço em suas cozinhas, feridos por ataques aéreos enquanto andavam rumo a suas plantações, mutilados por minas enquanto cuidavam de seus rebanhos ou alvejados por atiradores nas ruas do lado de fora de suas casas. ”

A província de Taiz, no sudoeste do Iêmen, testemunhou alguns dos confrontos mais intensos e constantes desde que o conflito eclodiu no país, em março de 2015. A cidade de Taiz é dividida em linhas de frente e, por quase dois anos, os residentes da cidade vêm vivendo sob constante estado de medo e sofrimento prolongado. A cidade é um exemplo sombrio da necessidade urgente por mais assistência médica, especialmente no que diz respeito a cuidados básicos de saúde.  

Os serviços médicos de Taiz foram diretamente afetados pela violência, com hospitais sendo repetidamente atingidos por bombardeios e tiros. Uma clínica móvel de MSF foi atingida por um ataque aéreo e ambulâncias foram alvejadas, confiscadas ou invadidas por homens armados. Profissionais médicos foram baleados em seu caminho para o trabalho, e também hostilizados, detidos, ameaçados e forçados a trabalhar sob a mira de armas. Muitos profissionais de saúde correm grandes riscos trabalhando em Taiz, e alguns deles temem por suas vidas enquanto trabalham.      

“Se eu me sinto seguro trabalhando no hospital? Eu nunca me sinto seguro”, diz o supervisor da sala de emergência de um hospital público de Taiz. “Não há respeito pelas instalações de saúde. Nosso hospital foi atingido e bombardeado muitas vezes; os bombardeios estão causando muito sofrimento, tanto entre as equipes como entre os pacientes”.

Os danos aos hospitais e a grande falta de profissionais e suprimentos essenciais resultaram no atual colapso dos serviços de saúde de Taiz, comprometendo gravemente o acesso da população a cuidados médicos vitais.

Um sistema de saúde debilitado combinado a condições de vida cada vez mais difíceis causaram um declínio na saúde da população, com consequências agudas para grupos vulneráveis e de baixa imunidade, como mulheres grávidas, bebês recém-nascidos e crianças pequenas. A maioria das famílias vive hoje com pouca ou nenhuma eletricidade, e com quantidades insuficientes de alimento e água. Muitas foram forçadas a fugir de suas casas para escapar de confrontos violentos, e agora vivem em abrigos improvisados ou prédios superlotados, sem qualquer condição de saneamento e sem itens essenciais, como colchões, cobertores ou materiais de cozinha. Os cuidados gratuitos de saúde são extremamente limitados, e os serviços privados podem ser proibitivamente caros, sendo a última alternativa das pessoas, que recorrem a ele quando se encontram muito doentes e já pode ser tarde demais.

Em 2016, equipes do hospital de cuidados materno-infantis de MSF e dos departamentos de maternidade apoiado por MSF em Taiz assistiram mais de 5.300 nascimentos, ofereceram mais de 31.900 consultas de pré-natal, conduziram mais de 2.600 consultas pós-parto e admitiram mais de 2.500 crianças com desnutrição grave em seu programa de nutrição terapêutica. Desde que a violência eclodiu, MSF ajudou a tratar mais de 10.700 pacientes feridos pela guerra em Taiz.

Em seu novo relatório, MSF reitera seu apelo a todas as partes integrantes do conflito para que elas garantam a proteção de civis e de profissionais de saúde, permitindo que todos os feridos e doentes tenham acesso a cuidados médicos. MSF também faz um apelo às organizações internacionais de assistência humanitária para que aumentem sua resposta e sua atuação no Iêmen, a fim de garantir que algum auxílio chegue aos que estão em necessidade.  

As condições de vida desastrosas destacadas nesses relatórios não são exclusivas de Taiz. Nas dez províncias do Iêmen em que MSF trabalha, nossas equipes presenciam as mesmas questões: os iemenitas são vítimas de consequências diretas e indiretas dessa guerra mortal e destrutiva; cuidados de saúde acessíveis estão gravemente comprometidos e, quase dois anos após o início da guerra, a assistência médica e humanitária ainda não teve sucesso em atender às necessidades mais básicas dessa população.

Para ler o relatório na íntegra, clique aqui.

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