Doença de Chagas

A doença de Chagas é endêmica em 21 países do continente americano. Estima-se que mais de 90% das pessoas infectadas não são diagnosticadas, e apenas cerca de 30 mil novos casos são relatados por ano na América Latina. Devido à globalização, a doença de Chagas passou a estar presente também na Europa e na Ásia.

No Brasil, estima-se que existam de 1,9 a 4,6 milhões de pessoas vivendo com a doença, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde. Trata-se de gerações de pessoas vivendo com Chagas, a maioria na invisibilidade por não ter sido sequer diagnosticada e, portanto, alheia às possibilidades de tratamentos existentes.

Em 2020, em apenas cinco meses, o Brasil registrou 1.746 mortes por doença de Chagas como causa básica. No entanto, pela falta de conhecimento da doença e, consequentemente pouco diagnóstico e notificação, é possível que exista um grande número de casos sem registro, principalmente durante o período de pandemia da COVID-19.

1.

Definição

A doença de Chagas, também conhecida como Tripanossomíase Americana, é uma doença parasitária negligenciada, que apesar de não ser tão conhecida como a malária e o cólera, afeta de 6 a 7 milhões de pessoas em 44 países no mundo. Na América Latina, a doença de Chagas é endêmica em 21 países – 75 milhões de pessoas estão sob risco de infecção e cerca de 12 mil morrem por ano.

Para romper com o ciclo de negligência que envolve a doença de Chagas, é fundamental educar as pessoas sobre os fatores de risco de infecção, contar com protocolos de manejo clínico atualizados, profissionais de saúde treinados e a disponibilidade de insumos para a oferta de diagnóstico e tratamento para responder a este problema de saúde pública que representa um grande impacto socioeconômico nos países da América Latina.

Os avanços do conhecimento sobre a doença de Chagas nas últimas décadas contribuíram para o consenso entre especialistas sobre a necessidade de diagnosticar e tratar os infectados pelo Trypanosoma cruzi em todas as fases (aguda e crônica) na atenção primária de saúde. Este fato foi corroborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2010, com a publicação da resolução Chagas da Assembleia Mundial de Saúde (WHA 63.20), que marca o compromisso dos Estados-membros em oferecer diagnóstico e tratamento específico na atenção primária de saúde para as pessoas que vivem com a doença.

As milhões de pessoas infectadas e negligenciadas no mundo exigem que os conhecimentos atuais sobre a doença sejam traduzidos em políticas públicas efetivas e inclusivas como resposta a esse problema secular.

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Causa

A Doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, que parasita o sangue e os tecidos de pessoas e animais.

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Transmissão

O Trypanosoma cruzi é transmitido pelo contato com as fezes dos insetos vetores, conhecidos popularmente no Brasil como “barbeiros” (insetos das espécies Triatoma infestans, Rhodnius prolixus e Panstrongylus megistus, dentre mais de 300 espécies que podem transmitir o Trypanosoma cruzi).

Também existem outras formas de transmissão, como a transmissão oral, pela ingestão de alimentos contaminados com os parasitas; a transmissão de mãe para filho ou forma congênita; por transfusões de sangue e transplante de órgãos; e por acidentes de laboratório.

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Sintomas

Os sintomas são variados, dependendo das duas fases da doença: na fase aguda (que começa logo nos primeiros três meses após a infecção) a maioria dos casos não apresenta sintomas, o que dificulta o diagnóstico oportuno e o tratamento precoce.

Na fase crônica, podem se manifestar complicações cardíacas ou digestivas que surgem depois de muitos anos, afetando o coração, causando arritmias e outros transtornos, além de afetar o sistema digestivo, causando dilatação do esôfago (que se manifesta com dificuldades para deglutir os alimentos) e do cólon (que se manifesta por constipação).

Outros sintomas na fase crônica podem incluir: desmaios, palpitações, dores no peito, inchaço dos membros inferiores e dores abdominais.

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Tratamento

O tratamento específico pode ser realizado com benznidazol, (medicamento de primeira escolha) ou nifurtimox (que não está disponível no Brasil) e tem uma duração média de 60 dias. Quanto mais cedo for feito o tratamento, maiores são as chances de cura da pessoa infectada. Uma pessoa infectada que seja diagnosticada na fase aguda e receba o tratamento adequado tem aproximadamente 100% de chance de cura.

6.

Diagnóstico

O diagnóstico na fase aguda está caracterizado pela visualização do parasita no exame direto de sangue ao microscópio (provas parasitológicas diretas). O diagnóstico na fase crônica é feito usando sorologia para detectar a presença de anticorpos (IgG anti-T.cruzi) como resposta do sistema imune contra a infecção.

Para determinar se o paciente está infectado com o parasita, as equipes de saúde precisam fazer de dois a três exames de sangue, motivo pelo qual MSF tem pressionado pelo desenvolvimento de novos testes rápidos para simplificar o diagnóstico da doença e que possibilitem ampliar o acesso ao diagnóstico na atenção primária de saúde.

7.

Atividades

Médicos Sem Fronteiras (MSF) desenvolveu projetos de atenção a pacientes com a doença de Chagas desde 1999, tendo atuado em diversos países da América Latina, como Honduras, Nicarágua, Guatemala, Brasil, Colômbia, Paraguai, México e Bolívia. A organização desenvolveu atividades também em países considerados não endêmicos, como o projeto na Itália para oferecer atenção médica a imigrantes infectados.

MSF tem se empenhado para que haja um maior diagnóstico e tratamento precoce da doença de Chagas, atuando em conjunto com outras organizações para defender a doença em fóruns globais de saúde. Isto levou em 2010 a uma resolução na 63ª Assembleia Mundial da Saúde para a integração do diagnóstico e tratamento de Chagas em instalações de saúde primária e secundária em todas as áreas endêmicas.

Em 2012, participamos da formação da Coalizão de Chagas, um órgão de comunicação, articulação e coordenação que fornece uma plataforma para os principais atores no combate à doença. A colaboração com atual liderança da DNDi – Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas – para o fornecimento e implementação de medicamentos e o aumento do papel de outras organizações permitiu que MSF repassar seus projetos e atividades para Chagas em 2016.

Em mais de 16 anos de atividades médicas com a doença de Chagas, MSF deu oportunidade de diagnóstico a mais de 117 mil pessoas; desse total, 11 mil apresentaram infecção e 9 mil delas completaram o tratamento satisfatoriamente.

Em 2016, MSF tratou 445 pessoas para a doença de Chagas.

Página atualizada em abril de 2024.

 

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