Somália: populações deslocadas enfrentam terríveis condições de vida

Número de deslocados internos vindos de Mogadíscio quase dobrou em poucas semanas, chegando a 200 mil pessoas

A constante intensificação dos confrontos em Mogadíscio, capital da Somália, levou a outro êxodo da população, fazendo crescer o número de centenas de milhares de deslocados internos (IDPs na sigla em inglês), que têm deixado a região desde janeiro de 2007.

A oeste de Mogadíscio, na estrada para Afgooye, onde Médicos Sem Fronteiras (MSF) tem oferecido tratamento médico de emergência e tratamento nutricional desde abril de 2007, o número de IDPs quase que dobrou em poucas semanas, chegando a 200 mil pessoas. A maior parte deles vive à beira da estrada, em abrigos improvisados e são totalmente dependentes de assistência externa.

A população está enfrentando condições sanitárias inaceitáveis e sua vulnerabilidade só aumentou, devido aos longos meses de falta de comida.

Em Afgooye e Hawa Abdi, a grande maioria das 1.700 consultas semanais realizadas por equipes de MSF está associada às condições precárias de vida: desnutrição severa, diarréia e infecções respiratórias severas.

As crianças que chegam hoje de Mogadíscio, especialmente as com menos de cinco anos, estão extremamente fracas.

Nas últimas duas semanas, mais de 250 crianças gravemente desnutridas, incluindo 80 que sofrem de desnutrição aguda, foram internadas nos centros de alimentação de MSF. Confrontadas com essa situação terrível, as equipes de MSF dobraram sua capacidade de internação de 20 para 40 leitos em Afgooye e estão implementando uma unidade pediátrica de 50 leitos em n Hawa Abdi. O centro de saúde nutricional intensivo em Hawa Abdi aumentou sua capacidade de 20 leitos em setembro para 80 hoje e as necessidades aumentam a cada dia.

As taxas de mortalidade são extremamente preocupantes. Em Hawa Abdi, um acampamento com mais de 32 mil IDPs e onde a assistência humanitária está disponível, o índice de mortalidade das crianças com menos de cinco anos é mais do que o dobro do mínimo que determina um estado emergencial: 4.2 mortes por 10 mil pessoas por dia, enquanto a taxa de mortalidade global é de 2.3 mortes por 10 mil pessoas por dia. A diarréia é a principal causa de morte no acampamento (mais de 50%) devido às condições sanitárias desastrosas.

A necessidade de água, alimentos, abrigos e cuidados médicos está rapidamente aumentando. No entanto, a expansão da assistência humanitária é extremamente difícil neste conflito.Apesar da mobilização de ajuda internacional das últimas semanas, ainda é insuficiente. As condições de vida nos cerca de cem acampamentos improvisados ao longo do eixo Mogadíscio-Afgooye estão significantemente abaixo dos padrões comumente aceitos para uma assistência humanitária emergencial e o risco de epidemias é grande.

O número de deslocados internos cresce todos os dias. Sem um aumento significante na assistência neutra e independente, essa situação pode piorar ainda mais.

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