Política para subsídio a tratamento da malária deve mudar

Médicos Sem Fronteiras acredita que sistema existente não cobre necessidades médicas e ameaça futuras terapias eficazes

O subsídio para o desenvolvimento de um novo medicamento global para a malária, que seria lançado este mês, não está levando em conta as necessidades médicas e ameaça o futuro de tratamentos mais eficazes para a doença. O alerta foi feito nesta quinta-feira pela organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF).

A Unidade de Medicamentos Acessíveis para a Malária (AMFm, na sigla em inglês) vai subsidiar o preço das combinações terapêuticas de artemisina (ACTs), o tratamento de malária mais eficaz existente hoje. O sistema visa à redução do preço dos ACTs de maneira a tirar do mercado os tratamentos mais antigos, ainda vendidos por serem considerados mais baratos.

"O AMFm tem potencial para salvar vidas e, ao mesmo tempo, para garantir que os ACTs continuem sendo a opção mais eficaz, ao garantir que os pacientes tenham acesso às melhores opções de tratamento", afirma Tido von Schoen-Angerer, diretor da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais de MSF. "Mas a orientação para a compra dos tratamentos de malária que o sistema vai subsidiar não está conseguindo fazer com que isso aconteça".

O Fundo Global Mundial para combater a Aids, tuberculose e malária, que inclui o AMFm, parou de afirmar que vai comprar exclusivamente as combinações de dose fixa (FDCs, na sigla em inglês), através da qual vários medicamentos são combinados em uma única cápsula. Os FDCs permitem uma melhor aderência ao tratamento e reduzem o risco de resistência aos medicamentos. Os principais antimaláricos necessários na África estão disponíveis neste formato, fabricados por diferentes produtores, e atendem aos padrões de qualidade exigidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Mais FDCs de novos produtores devem passar a atender a esse padrão no próximo ano.

Mas ao autorizarem a compra dos chamados "co-blisters" – medicamentos embalados juntos, mas não combinados em uma única cápsula -, o Fundo Global está correndo o risco de que os pacientes tomem apenas um dos medicamentos, o que aumenta significantemente o risco de desenvolvimento de resistência.

"Cloroquina, antes o principal medicamento usado no tratamento da malária, agora é ineficaz porque o parasita se tornou resistente a ela", contou von Schoen-Angerer. "Nós temos que evitar que isso aconteça com os ACTs porque, se a resistência se desenvolver, não há outra opção de tratamento".

MSF pede ao Fundo Global e às organizações internacionais que apoiam o AMFm que revisem suas políticas de compra para prevenir o risco de desenvolvimento de resistência aos ACTs.

"É possível contar apenas com os FDCs, e deixar os "co-blisters" como uma alternativa, mas apenas por um curto período, fazendo com que eles não sejam mais comprados com apoio dos doadores", defende von Schoen-Angerer. "A política de compra do subsídio da malária deve mudar antes que a iniciativa seja oficialmente lançada – não há desculpa para não fazer isso."

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