MSF denuncia falta de proteção e assistência para civis na República Democrática do Congo

Às vésperas do Conselho de Segurança da ONU decidir sobre o futuro papel das Nações Unidas na República Democrática do Congo, Médicos Sem Fronteiras divulga relatório sobre a gravidade da situação no país e alerta para um massacre contra de civis.

Num relatório intitulado “Ituri: Promessas Quebradas? Pretensa Proteção e Inadequada Assistência”, a organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) denuncia a falta de proteção efetiva aos civis na região de Ituri, no nordeste da República Democrática do Congo. MSF também protesta contra a insegurança contínua nos arredores de Bunia e o nível precário da assistência. O relatório de MSF chega às vésperas da decisão do Conselho de Segurança da ONU sobre o futuro papel da Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo.

“Pelo que observamos aqui em Bunia, está claro que o atual nível de proteção e assistência às pessoas está longe de ser suficiente. A violência e a insegurança continuam a delinear a realidade das pessoas na cidade. Toda e qualquer medida adotada até agora tem sido insuficiente. É uma ilusão no papel , sem garantias de proteção real no campo. Se a falta de vontade política continuar a impedir os caminhos para proteção, a ONU não deverá se surpreender com outros massacres. É irresponsabilidade da sua parte, e as suas ações irão apenas servir para isolar Bunia. Sabemos, pelas recentes histórias, que mais de uma vez foi dada a falsa sensação de proteção a uma população sucessivamente massacrada” disse Rafael Vila Sanjuan, Secretário Internacional de MSF, ao retornar de Bunia.

Até agora, a contínua violência e a matança de civis claramente não foram suspensas pelas intervenções internacionais. Metade dos pacientes admitidos no hospital de MSF em Bunia é formada por crianças com menos de cinco anos de idade. Desde o final de maio, 20% dos pacientes tem sido vítimas de ferimentos de guerra. MSF realizou, neste período, 519 cirurgias – cerca de ¼ em crianças com menos de 15 anos de idade. Dos pacientes com mais de 15 anos feridos de guerra, que necessitavam de cirurgia, 1/3 era mulher. “Esta não é uma guerra entre milícias étnicas ou entre grupos, esta é uma guerra contra os civis,” comenta Thomas Nierle, diretor de operações de MSF em Genebra.

Nas últimas semanas, mais de 12.000 pessoas retornaram a Bunia após terem fugido dos horrores na cidade em meados de maio, mas poucos desejam retornar para suas casas temendo por suas vidas. Preferem permanecer no acampamento próximo ao aeroporto de Bunia que continua vulnerável à violência. Apenas algumas áreas da cidade estão seguras e durante a noite há assassinatos, estupros, represálias e saques, mesmo com a presença da Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUC) e da Força Interina Multinacional de Emergência.

A situação é ainda mais terrível fora da cidade. Não há proteção para as quase 150.000 pessoas que fugiram de Bunia a procura de proteção nas florestas. Os habitantes continuam fugindo dos conflitos e da matança no interior. Ninguém sabe a extensão da violência fora de Bunia porque o acesso a essas áreas tem sido impossível há meses. Organizações de ajuda humanitária não podem avaliar a situação ou aumentar o alcance da sua assistência além de Bunia.

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