Médico carioca volta ao Brasil após missão na Indonésia

Em seu terceiro projeto com MSF, Paulo Reis trabalhou como coordenador de terreno em Asmat

Imagine ter que remar 100 km em uma canoa para chegar ao posto de saúde mais próximo. É isso que indonésios que moram nas vilas mais remotas do distrito de Asmat, na ilha de Papua, têm que enfrentar para ter acesso a cuidados médicos básicos. Médicos Sem Fronteiras está na região desde 2006, realizando um trabalho junto ao Ministério da Saúde local, para lutar contra essa situação.

Paulo Reis, que já passou por Serra Leoa e pelo Sul do Sudão, esteve em Asmat durante sete meses como coordenador de terreno. Segundo ele, que já trabalhou também com tratamento de indígenas na Amazônia, "os indonésios não estão acostumados a buscar atendimento médico, o que muitas vezes é uma barreira para o nosso trabalho".

Como era o trabalho em Asmat?
Paulo Reis – É diferente dos projetos comuns porque lá não tem concentração demográfica, então faltam postos de saúde. Isso leva MSF a fazer muito treinamento e se mobilizar para promover melhoras no sistema de saúde local. Treinávamos enfermeiras, parteiras, médicos e agentes comunitários de saúde. Esse último é uma figura muito importante por estar sempre presente nas comunidades e ajudar a educar as pessoas em relação à saúde.

Como MSF lida com essa falta de concentração demográfica?
Reis – Temos duas bases e duas equipes, atingindo três dos sete subdistritos de Asmat. Trabalhamos em clínicas móveis, indo para as vilas por vias fluviais, que é a única forma de chegar aos lugares.

Como é o sistema de saúde dessa região?
Reis – É bem deficiente. Os médicos que estão lá são muito jovens e despreparados, estão em fase de treinamento. Então, eles ligavam muito pra gente pra perguntar algumas coisas ou para que fôssemos até lá ajudar. Às vezes ligavam até pra consertar gerador. Tínhamos que acordar o pessoal da logística no meio da madrugada para ir lá consertar.

Quais eram os maiores problemas enfrentados?
Reis – Os maiores problemas eram os casos agudos. Temos que ter a sorte de estar no lugar certo e na hora certa para atender essas pessoas. A emergência que mais acontecia era de obstetrícia. Uma vez, demos a sorte de estarmos perto da vila quando avisaram que tinha uma grávida passando mal. Pudemos tratá-la e, apesar das complicações, correu tudo bem.

As questões culturais interferiam muito no seu trabalho?
Reis -Ter que usar intérprete atrapalha um pouco, mas a principal dificuldade cultural era o fato de essas pessoas não estarem acostumadas a buscar ou receber ajuda médica. Em algumas vilas, as pessoas não queriam ser testadas para malária, achavam que ia fazer mal. Na campanha de filariose, correu um boato de que as pessoas que haviam recebido o tratamento em outra vila estavam morrendo, então as pessoas não queriam tomar o remédio. Eles não entendiam que às vezes o tratamento não dá certo e que não é por causa dele que as pessoas morrem. No entanto, são pessoas muito educadas e solícitas.

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