Leia a entrevista com o primeiro sobrevivente da febre de Marburg em Uíge, Angola

Horacio foi o primeiro paciente a sobreviver à febre de Marburg em Uíge, Angola. Ele se internou no hospital onde MSF montou um centro de tratamento e recebeu alta 13 dias depois. Hoje, ajuda a difundir informações sobre Marburg entre a população local

Horacio, um taxista de 27 anos de idade, é o primeiro paciente a ter a febre hemorrágica de Marburg confirmada que conseguiu sobreviver e ter alta do centro de tratamento que MSF montou no hospital municipal de Uíge, em Angola. No último dia 23 de abril, após ter passado 13 dias internado e quando os médicos se certificaram de que ele não apresentava mais nenhum sintoma, ele foi liberado para retornar para casa. Quando a equipe o visitou no dia seguinte, ele ainda parecia bastante fraco. Ausente, como se olhasse para um abismo, Horacio mal podia falar. Parecia que ele havia apagado da memória tudo o que tinha passado enquanto esteve no hospital. Ele apenas se lembrava do momento em que soube que estava recebendo alta. Na semana seguinte, quando os profissionais de MSF o visitaram pela segunda vez, ele já tinha melhorado bastante. Ele já andava com mais segurança e seus olhos estavam cheios de vida. Naquele dia, Horacio pôde, e quis, responder algumas perguntas para a equipe de MSF e para a emissora de rádio de Uíge.

Como tudo começou? Quais foram os primeiros sintomas?

No início, eu nem sabia o que era Marburg. Eu não podia acreditar. Inicialmente, eu senti dor de cabeça, como se tivesse com malária (náuseas, e outros sintomas semelhantes à malária, doença muito comum em Angola) e febre alta. Eu também tive diarréia. Não podia trabalhar, por isso fiquei em casa. Mas como eu não mostrava nenhum sinal de melhora, decidi ir ao hospital.

Como você foi recebido quando você chegou?

A equipe de Médicos Sem Fronteiras me recebeu muito bem. Fiquei lá uma semana e quando eu comecei a melhorar um pouco eles me mandaram para casa novamente.

E agora, como você está se sentindo?

Sinto-me saudável. E sinto-me feliz também. E tudo isso graças aos Médicos Sem Fronteiras e a outras pessoas que me deram apoio.

Você consegue fazer algum exercício físico? Consegue trabalhar?

Estou me recuperando. Também fiquei bastante abalado psicologicamente, mas sinto-me muito melhor. Fisicamente, no entanto, ainda não me sinto no ponto ainda.

Você entende o medo que as pessoas têm de ir ao hospital?

Posso confirmar que a doença existe e que é muito perigosa. Aconselho àqueles que têm sintomas, como dores de cabeça ou febre alta, a irem imediatamente ao hospital. Ficar em casa quando se está doente pode resultar em graves conseqüências para a família. Eles devem ir ao hospital; é lá que as pessoas podem sobreviver. Não entendo porque as pessoas fogem do hospital ou porque algumas pessoas dizem que as pessoas são mortas lá. Isto não é o que eu vi. O hospital é um lugar onde as pessoas podem se recuperar.

Como a sua família está reagindo agora que você está de volta?

Minha família recebeu aconselhamento adequado da equipe de saúde. Eles sabem como me tratar. Além disso, eles vêem que eu estou muito melhor.

Mas eles não estão com medo?

Não. Eles entendem que a doença acabou.

O que você planeja fazer logo mais?

Estou me recuperando pouco a pouco e quando eu estiver 100% novamente vou retornar ao trabalho, como antes. Até poderia ajudar os médicos na luta contra a febre de Marburg. (Algumas semanas após ter recebido alta, Horacio foi contratado por MSF. Ele agora participa de atividades para chamar a atenção da população local para o problema).

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