Inquérito mostra a gravidade da atual crise nutricional em bolsões de Angola

Inquérito mostra a gravidade da atual crise nutricional em bolsões de Angola

Dois inquéritos nutricionais recentes realizados por MSF em Mavinga, na província de Cuando Cubango, mostraram taxas de desnutrição tão severas que uma assistência humanitária em larga escala será necessária por semanas, possivelmente meses.

Mavinga é uma cidade isolada, no sudoeste do país. Este antigo bastião da Unita é um local de difícil acesso e normalmente conta com um população de 7 mil pessoas. Desde o cessar-fogo de abril deste ano, 40 mil deslocados se reuniram na cidade em duas Áreas de Aquartelamentos de Soldados e Familiares (QFA) em Matungo e Capembe, que foram instalados pelo governo angolano para os ex-membros da Unita. MSF teve acesso a esta área no meio de junho e criou imediatamente um programa nutricional de emergência.

Os inquéritos nutricionais, realizados em julho de 2002 em Mavinga e na QFA de Matungo, confirmam a necessidade de uma ajuda emergencial e a necessidade ainda maior de uma assistência ampliada. Os dois inquéritos, aplicados a 1687 crianças com menos de 5 anos, mostram que 25% das crianças em Matungo e 12,4% das de Mavinga sofrem de desnutrição (8,9% em Matungo e 5,6% em Mavinga sofrem de desnutrição severa).

Estes inquéritos também permitiram calcular a taxa de mortalidade retroativa, para o mês de julho, das crianças com menos de 5 anos, que teve resultados alarmantes. Na área de Mavinga, no mínimo 5 crianças morreram por dia neste período. Este número é de 3 a 4 vezes mais alto do que as estimativas que caracterizam uma crise aguda.

“Apesar da dissolução da Unita e das esperanças de paz, a fome e a desnutrição continuam a ameaçar a vida de milhares de angolanos”, disse o Dr. Abiy Tamrat, coordenador da célula de emergência no escritório de MSF em Genebra. “Há 10 dias, nós aumentamos a capacidade de nossos centros de nutrição terapêutica (CNT) para poder oferecer tratamento a até 300 crianças. Nós sabemos que, de agora em diante, de 300 a 400 crianças severamente desnutridas continuarão em Mavinga”.

Hoje, além do início da distribuição generalizada de alimentos, as equipes de MSF estão assistindo aproximadamente 200 crianças no CNT de Mavinga. Desde a sua abertura, 295 crianças foram tratadas. Qualquer criança considerada severamente desnutrida necessita de tratamento médico imediato para evitar a sua morte.

A falta de vacinação e de acesso a cuidados de saúde desde 1997 nas antigas zonas de controle da Unita aumentou os riscos de epidemias, onde um surto poderia ser muito sério em tal contexto nutricional.

MSF está presente em Angola desde 1983 e atualmente conta com 174 expatriados e mais de 2200 profissionais nacionais. As equipes de MSF estão presentes em 11 das 18 províncias do país e têm tentado entrar em áreas onde o acesso permanece difícil devido a minas terrestres e a destruição de estradas, pontes e infraestrutura.

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