Refugiados dentro de seu próprio país. Assim são os deslocados internos, pessoas que precisam deixar suas casas por causa de guerras e perseguições, mas não chegam a cruzar a fronteira.
É o caso dos iraquianos que vivem em Dibaga, um campo que recebe muita gente que vem de Makhmour, Mosul e outras cidades e vilas tomadas pelos extremistas do Estado Islâmico.
Construído para abrigar 4.500 pessoas, o campo atingiu sua capacidade máxima, e os recém-chegados são instalados em tendas temporárias em um estádio próximo. E eles são muitos, principalmente com a intensificação das operações militares para libertar a cidades como Faluja e Mosul do poder do Estado Islâmico (EI).
Fotos divulgadas pela organização Médicos sem Fronteiras (MSF) capturam cenas do dia a dia em Dibaga. Três vezes por semana, a ONG internacional faz atendimentos no local.
A atenção precisa ser voltada não só para a saúde física, mas também mental, já que é preciso lidar com pessoas que perderam tudo, ficaram traumatizados pela violência e têm pouca esperança de retornar às suas casas em um futuro próximo.
Segundo o líder da equipe médica, Marc Richard de la Cruz, muitos pacientes se queixam de “sintomas físicos genéricos e inexplicáveis”, que se mostram claramente de natureza psicológica.
Em 2015 foram registrados 40,8 milhões de deslocamentos internos no mundo, um aumento de 2,6 milhões comparado com 2014 e o maior número já registrado, de acordo com dados do relatório Tendências Globais do ACNUR, lançado nesta segunda-feira (20) para marcar o Dia Mundial do Refugiado.
Temperaturas de 50 graus
Um terço dos que vivem em Dibaga se mudam de lá assim que conseguem. A vida sem trabalho e dinheiro, em tendas com temperaturas que chegam a 50 graus no verão, é dura. Muitos se mudam para vilas próximas para tentar alugar uma casa e obter emprego.
Apesar das dificuldades de deixar tudo para trás para viver nos campos, muitos preferem essa alternativa a ficar em localidades dominadas pelo Estado Islâmico, onde se vive como numa prisão, segundo explica à equipe do MSF um dos moradores de Dibaga que recebe telefonemas de parentes e amigos que não conseguiram fugir.
“Eles ligam à noite para dar notícias. Os celulares foram banidos, então eles precisam ser muito cautelosos. A linha é terrível. Eles nos imploram para liberá-los. Dizem que vivem trancados, com medo de serem pegos pelo Estado Islâmico”, descreve.
Segundo ele, quanto mais perde territórios, mais ameaçadores os terroristas do Estado Islâmico se mostram com as pessoas que dominam. “À medida que o front avança, eles descontam sua raiva nas pessoas, homens, mulheres e crianças. Sei de um homem que conseguiu escapar. O EI matou sua mulher e seu filho”, conta.
Mesmo quando as vilas e cidades são liberadas do controle dos extremistas, é preciso esperar um tempo antes de voltar para casa. “Vamos ficar aqui enquanto for preciso. Nossa vila foi libertada, mas temos que esperar que eles limpem completamente a área antes de voltar. Enquanto isso preciso encontrar trabalho, qualquer tipo de trabalho”, relata um dos moradores de Dibaga.
Futuro incerto
Com 4,4 milhões de deslocados internos, de acordo com dados do ACNUR (agência da ONU para os refugiados) o Iraque é o terceiro país com mais pessoas nessa situação, perdendo apenas para a Colômbia e a Síria.
Segundo o ACNUR, muitas vezes os deslocados internos enfrentam um futuro mais incerto do que os refugiados que vão para outros países, pois ficam presos no conflito, sem ter um lugar seguro onde permanecer, perseguidos muitas vezes pelo próprio governo e com dificuldade de acesso à saúde, educação e emprego.