Déficit no Fundo Global de Combate a Aids, TB e Malária ameaça tratamento em países pobres

Sem dinheiro, milhares de pessoas com HIV/Aids em países em desenvolvimento serão abandonados à própria sorte. Só em Malauí, na África, onde há 800.000 portadores do HIV/Aids, os 50.000 que receberiam tratamento em 2007 deverão ficar sem os remédios.

Paris – Os países doadores perderam uma oportunidade importante de apoiar o Fundo Global de Combate a Aids, Tuberculose e Malária ao falharem em arrecadar dinheiro suficiente para combater essas doenças nos países em desenvolvimento. Durante um encontro em Paris, patrocinado pelo governo francês e pelo Fundo Global, ficou claro que o déficit de 50% para a terceira rodada de financiamento em outubro de 2003, não foi preenchido por novas doações. O fundo tem acesso, atualmente, a apenas cerca de 450 milhões de dólares para cobrir projetos que custarão entre 800 milhões e 1 bilhão de dólares.

A não ser que o Fundo Global receba novas doações, as propostas dos países para oferecer tratamentos para pessoas com aids, tuberculose ou malária serão recusadas ou adiadas.

Projetos pilotos de tratamento de aids desenvolvidos por MSF e outras organizações em países em desenvolvimento já demonstraram que o tratamento com anti-retrovirais é viável em países pobres. Esses países estão começando a dar os primeiros passos no sentido de expandir o acesso dos ARVs e alguns estão se esforçando seriamente para torná-los mais acessíveis. Estes projetos continuarão sendo uma exceção, ao invés de regra, se a comunidade internacional não cumprir a promessa de financiar os programas planejados.

Convidadas pelo Ministério da Saúde de Malauí, MSF e outras organizações que oferecem tratamento anti-retroviral no país estão envolvidas em desenhar o programa nacional de tratamento – uma das propostas nacionais enviadas para o Fundo Global. “O plano é bem planejado e realista. Dependendo do preço dos medicamentos usados, o governo de Malauí espera poder oferecer tratamento para entre 25.000 e 50.000 pacientes em 2007,” disse Dr. Nicolas Durier do programa de anti-retrovirais de MSF no distrito de Chiradzulu no sul do país, que atende 800 pacientes no momento.

“Se o dinheiro necessário do Fundo Global não chegar, 50.000 malauianos vivendo com HIV/Aids ficarão abandonados à própria sorte, sem esperança de ter uma sobrevida maior. Sem o financiamento, será impossível para o governo combater a pandemia de aids de forma responsável,” continuou Dr. Durier. Hoje, 800.000 malauianos vivem com HIV/Aids.

“Nós consideramos o Fundo Global uma das poucas iniciativas com potencial de combater a crise de aids seriamente,” disse Dr. Bernard Pécoul, diretor da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais de MSF. “Todos concordam que o tratamento é um componente-chave na resposta à pandemia de aids. Mas enquanto a única verba disponível para apoiar propostas concretas e tecnicamente viáveis como aquelas recebidas pelo Fundo Global é apenas uma fração da necessidade estimada, não há como os países fazerem o que todos querem que se faça: tratar seus pacientes.”

MSF vem tratando de pessoas com HIV/Aids em países em desenvolvimento desde o início da década de 90, e seu primeiro programa de tratamento anti-retroviral teve início em 2000. MSF desenvolve no momento 23 projetos com anti-retrovirais em 14 países e já tratou até agora 5.000 pessoas, 80% deles ainda recebendo tratamento. Até o final de 2003, MSF espera iniciar outros 18 projetos, aumentando para 10.000 o número de pessoas em tratamento nos projetos da organização.

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