Angola: Uma população sacrificada pela guerra

Angola: Uma população sacrificada pela guerra

“Por que nós nascemos para sofrer assim, nas mãos de nossos irmãos? A morte teria sido melhor”.

Depois de 27 anos de guerra, é assim que J., de Mavinga, de 40 anos, descreve sua vida em Angola desde 1998. Este é apenas um dos depoimentos entre centenas de outros publicados hoje por Médicos Sem Fronteiras (MSF) em 2 documentos, que dão uma idéia dos eventos que ocorrem em grande parte do país e que eram desconhecidos desde 1998.

Estes testemunhos, compilados imediatamente após o final da guerra, apesar de não serem completos, ilustram como, de 1998 a 2002, tropas beligerantes da Unita e do governo angolano perpetraram, deliberadamente, atos de violência extrema contra os civis: deslocamentos forçados, estupro, conscrição forçada, execuções sumárias e ataques físicos.

Como uma questão política, ambas as partes em guerra usaram, sem hesitar, estas formas de violência e terror para dominarem populações civis, privando-as de comida e recursos básicos necessários para a sobrevivência. Usados por anos como instrumentos de guerra, estes civis foram simplesmente abandonados após a guerra.

Os 2 documentos de MSF mostram que, desde 1998, civis foram usados pelos dois lados conflitantes em suas estratégias militares. O sofrimento vivenciado por estas pessoas é a conseqüência direta de uma guerra travada sem a menor consideração para com os princípios da lei humanitária internacional.

A trégua que precedeu o acordo de cessar-fogo de 4 de abril de 2002 não pôs fim ao pesadelo. A ajuda não tem sido suficiente para as dezenas de milhares de civis que foram deslocados forçadamente durante a última fase da guerra, ou para os ex-combatentes da Unita e seus familiares, que estão em áreas especiais de aquartelamento.

Problemas de acesso a muitas áreas de Angola, somados à resposta letárgica da comunidade de ajuda internacional após o cessar-fogo, exacerbaram a catástrofe humana que já era chocante por décadas de guerra. Nas próximas semanas, MSF publicará um documento analisando o fracasso da resposta humanitária internacional.

Rony Brauman, Diretor de Pesquisa de Fundação MSF em Paris, apresentará os documentos em Luanda hoje.

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