Aids: projetos de MSF comprovam que é possível tratar pacientes com genéricos “3 em 1”

MSF anunciou em Bangcoc que, graças a simplificação do tratamento – combinações que reúnem num único comprimido três anti-retrtovirais genéricos –, aumentou o número de pacientes em tratamento de 1.500 para 13.000. Mas ainda há desafios a serem vencidos.

O tratamento de pessoas vivendo com HIV/aids com anti-retrovirais é eficaz, mesmo para pacientes em estágio avançado da doença vivendo em países mais pobres, é o que afirma Médicos Sem Fronteiras (MSF) ao anunciar, durante a XV Conferência Internacional de Aids em Bangcoc, novas informação clínicas. A simplificação do tratamento, incluindo o uso de combinações que reúnem três medicamentos anti-retrovirais genéricos num único comprimido, permitiu que MSF aumentasse rapidamente os seus programas de tratamento do HIV/aids. Há dois anos, MSF tratava cerca de 1.500 pacientes em 10 países e hoje trata 13.000 pacientes em 25 países. No entanto, MSF informa que desafios significantes permanecem, como a falta de medicamentos de segundo uso a preços acessíveis e formulações pediátricas.

O grau de segurança e as informações obtidas do tratamento de 12.058 adultos (idade média de 34 anos; 55,6% mulheres) de 31 programas de MSF em 16 países apontam para resultados clínicos e imunológicos encorajadores. Embora a maioria dos pacientes tenha iniciado o tratamento em estágio avançado da doença – 87,7% se encontravam nos estágios 3 e 4 definidos pela OMS – Organização Mundial de Saúde – e a sobrevivência, após os 24 meses foi de 85,3%, enquanto que 12,1% morreram.

Um aumento contínuo no número de células CD4 também foi observado entre os pacientes de MSF. O aumento médio de CD4 em pacientes que foram tratados com medicamentos anti-retrovirais por 24 meses foi de 101 células/mm³ em seis meses, 135 células/mm³ em 12 meses, 193 células/mm³ em 18 meses e 208 células/mm³ em 24 meses. Os pacientes ainda ganharam de três a cinco quilos durante o tratamento. Os exames de carga viral não estão disponíveis na maioria dos programas de tratamento de MSF, e por isso não são realizados com frequência mas, em relação ao programa de MSF em Chiradzulu, Malaui, a carga viral foi avaliada em 477 pacientes que estiveram sob tratamento por pelo menos seis meses, e segundo análises preliminares das informações, 85% (407) estavam com a carga viral indetectável (menos de 400 cópias/ml).

Usar as combinações de doses fixas de anti-retrovirais, eliminar a exigência de testes de CD4 e carga viral para dar início ao tratamento e delegar responsabilidade de médicos para enfermeiros e profissionais de saúde foram essenciais para a expansão rápida do número de pacientes de MSF incluídos nos programa de tratamento. Em maio de 2004, 76% dos novos pacientes de MSF estavam recebendo os seus tratamentos na forma de uma combinação de doses fixas de três anti-retrovirais genéricos (d4t/3TC/NVP) em um comprimido administrado duas vezes ao dia.

Embora as informações apresentadas durante a Conferência demonstram a segurança e a eficácia das atuais combinações de doses fixas de medicamentos, os médicos de MSF manifestaram preocupação com o fato de que quando seus pacientes necessitarem de medicamentos de segundo uso, eles não estarão accessíveis.

“A resistência aos anti-retrovirais de primeira escolha é inevitável tanto em países ricos quanto em países pobres”, diz Dra Alexandra Calmy, consultora de MSF para HIV/aids. “E com os tratamentos de segunda escolha custando até US$ 5.000 por pacientes/ano nos países em desenvolvimento – 15 vezes mais que o custo dos tratamentos de primeira escolha – eles simplesmente não estarão acessíveis. Caso esta situação não mude, o custo por paciente vai permanecer alto e as pessoas vão morrer invariavelmente”.

A disponibilidade e o acesso aos medicamentos de segunda escolha e outros novos anti-retrovirais também estão ameaçados pelo prazo final que se aproxima para a implementação do acordo TRIPS da Organização Mundial do Comércio (OMC) em países produtores de medicamentos, como a Índia, e por acordos de comércio regionais e bilaterais. O Acordo TRIPS determina que até o ano 2005 todos os países, com exceção daqueles considerados com baixo grau de desenvolvimento, já tenham aprovada a sua Lei Nacional de Propriedade Intelectual. Além disso, internacionalmente e nacionalmente, as iniciativas para se aumentar o número de pacientes em tratamento permanecem recebendo pouco financiamento, encontram resistência política ou sofrem com a inércia burocrática, que atrasam a implementação dessas iniciativas.

“MSF começou a tratar pessoas vivendo com HIV/aids com atraso, mas agora que nós e outros decidiram mostrar que isto pode ser feito, mesmo para os pacientes mais doentes nos países mais pobres, é uma tragédia que apenas 7% de todos que necessitam de tratamento nos países em desenvolvimento estejam recebendo os anti-retrovirais”, disse Dr. Myrto Schaefer, de MSF. “Não há desculpa para se aceitar esta falta de ação. Os governos podem e devem fazer muito mais”.

MSF oferece tratamento com anti-retrovirais para mais de 13.000 pacientes atendidos por 56 projetos em 25 países. MSF vem tratando as pessoas que vivem com HIV/aids nos países em desenvolvimento desde meados dos anos 90, e os primeiros projetos de MSF que distribuíram tratamentos com anti-retrovirais tiveram início no ano 2000 na Tailândia e na África do Sul.

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