Síria: dor que ultrapassa os ferimentos

Abu Yazan foi atingido durante um ataque a seu vilarejo na Síria e se viu obrigado a deixar o país em busca de tratamento e segurança

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Abu Yazan não consegue dormir, andar ou sorrir sem sentir dor desde que foi gravemente ferido durante um ataque com bombas de barril a seu vilarejo, no sul da Síria. “Eu tinha certeza que iria morrer quando fui lançado ao ar”, disse. Ele sobreviveu, mas sofreu fraturas na mão, cintura, tórax, pescoço, costas e cabeça.

A guerra chegou cedo ao vilarejo de Mashara, na província de Quneitra. Desde o fim de 2012, a região tem estado sob um regime de bombardeios. Em 2013, as forças de segurança detiveram cerca de 70 moradores do vilarejo de 4 mil habitantes. Alguns deles ainda estão definhando na prisão, outros morreram torturados. Mas Abu Yazan, que hoje tem 30 anos, decidiu ficar e continuar trabalhando como pintor, apesar da insegurança. Sua mãe e sua irmã fugiram para Damasco, onde até então era seguro, e ele lhes enviaria dinheiro.

Dois de seus irmãos estavam sitiados em duas regiões no sul de Damasco: Yarmouk e Yalda. Por conta do bloqueio, eles estavam impossibilitados de se ver, mesmo que estivessem a poucos quilômetros de distância um do outro. Um terceiro irmão estava em fuga há um ano e meio, escapando do recrutamento militar. “Em Mashara, os civis vivem na mira dos rebeldes e do exército”, disse Abu Yazan.

Em janeiro de 2015, sua vida mudou para sempre. Ele estava pintando a fachada de um prédio, pendurado em um andaime quando uma bomba de barril caiu próximo dali. “Era uma área residencial, onde só havia civis”, contou ele.
Bombas de barril têm sido amplamente usadas pela força aérea síria, e milhares de civis foram mortos em ataques usando esses dispositivos explosivos altamente destrutivos pelo país. Milhares de outras pessoas perderam suas casas por causa deles. Por conta pressão extrema da bomba, Abu Yazan voou do andaime.

Longe da Síria
Ele conseguiu, de alguma forma, chegar a Beirute para fazer tratamento. Ali, recebeu cuidados básicos de clínicas beneficentes, mas para cuidados mais especializados, ele precisaria de mais dinheiro, algo que ele simplesmente não tinha. Ele decidiu arriscar tudo para chegar à Europa. Seu objetivo é chegar ao Reino Unido, onde tem parentes e amigos. Há cerca de um mês, Abu Yazan vive no acampamento conhecido como “selva” em Calais, na França, onde espera por uma chance de cruzar o canal que leva ao Reino Unido.

“Eu acho que é um milagre ter conseguido chegar aqui pela Grécia e pela rota dos Balcãs. Meu objetivo é chegar ao Reino Unido para ficar com meus parentes e amigos. Também sei que há muita oferta de emprego lá. Além disso, eu falo um pouco de inglês, mas nada de francês, e não conheço ninguém na França”, disse Abu Yazan.

“A França pode ser um país legal, mesmo que tudo o que eu tenha visto seja a ‘selva’. Mas meu primo está pronto para me receber em Londres, então eu quero ir para lá, para não ficar sozinho”, explicou. “Com a minha mãe e irmã vivendo em Damasco, meu objetivo é ajudá-las. Então, eu quero melhorar para voltar a trabalhar e começar a apoiar a minha família novamente.”

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