República Centro-Africana: qual será a próxima cidade tomada pela violência?

Com a violência ganhando força no país, a população teme que Bambari seja palco de massacres

República Centro-Africana: qual será a próxima cidade tomada pela violência?

Bambari será a próxima? Essa é a pergunta na boca de todos na segunda maior cidade e entreposto comercial da República Centro-Africana. Seus residentes temem que a violência que assola as cidades de Bangassou e Bria desde o começo de maio na forma de massacres brutais possa se espalhar em breve para Bambari, com uma repetição do banho de sangue da guerra entre 2013 e 2014.

O Rio Ouaka divide a cidade em duas, com uma parte predominantemente cristã e outra muçulmana. Bambari tem estado calma nos últimos meses, com seus numerosos grupos étnicos e religiosos vivendo lado a lado de forma relativamente pacífica. Em fevereiro, a missão de estabilização da ONU, MINUSCA, declarou Bambari uma “cidade sem armas”, fortalecendo a percepção de que se trata de uma área segura para aqueles que escapam da violência nas outras partes do país.

Atualmente, 50% dos residentes foram deslocados de suas casas em outras partes da República Centro Africana. Das 55.869 pessoas deslocadas, 10.300 chegaram a Bambari a partir de meados de março. A maior parte está vivendo em nove campos que circundam a cidade. São assentamentos improvisados sem água corrente, eletricidade e serviços básicos de saúde – condições que estimulam a proliferação de doenças e aumentam o risco de epidemias.   

As pessoas deslocadas, assim como os residentes de longa data de Bambari, dependem do hospital da cidade, apoiado por uma equipe de Médicos Sem Fronteiras (MSF), para cuidados médicos. Outra equipe de MSF apoia dois centros de saúde, um na parte cristã da cidade e outro na área muçulmana.

A tranquilidade de Bambari foi recentemente estremecida por eventos nas redondezas. Em 8 de maio, ocorreu um massacre em Alindao, cidade a 120 km, no qual 133 pessoas foram mortas e vizinhanças inteiras foram completamente queimadas. Isso desencadeou uma onda de violência em Alindao e levou a população da cidade a seguir em direção a Bambari.

As equipes de MSF em Bambari trataram 22 pessoas com feridas causadas por violência em maio, em contraste com apenas oito em abril. Quatro crianças estavam entre os feridos de Alindao tratados por MSF, incluindo um menino de três anos de idade baleado no rosto. “Ele perdeu a maior parte do lábio inferior em decorrência do tiro e tem uma grave infecção”, diz Nicole Hart, médica referente de MSF.

A maioria dos feridos em Alindao tem lesões de tiros, mas alguns têm feridas de facas e queimaduras. “Atendi um homem cuja garganta foi cortada”, diz Hart. “Ele passou dois dias na floresta próxima de Alindao antes de ser trazido a Bambari. A expressão no seu rosto era de pânico. Nós o operamos e ele agora está se recuperando lentamente”.

Falando do seu leito de hospital, Anga descreve o ataque: “Quando eu estava deitado no chão, me protegendo do tiroteio, um homem se aproximou de mim, levantou minha cabeça e cortou minha garganta. Pensei que tinha morrido, mas parece que parte da minha garganta ficou a salvo e eu continuei respirando”.

“Outra moça jovem teve a maior parte do seu corpo queimado”, diz Hart. “Ela ficou trancada com sua família em casa e eles colocaram fogo na casa. Para nossa tristeza, ela faleceu há alguns dias”.

Com o fluxo de pessoas deslocadas, as equipes de MSF também vêm observando um crescente número de pacientes doentes. “O centro de saúde na parte muçulmana está localizado perto do campo onde pessoas deslocadas Fulani (um grupo muçulmano) estão vivendo. Nós fazemos, atualmente, 120 consultas todas as manhãs”, diz a enfermeira comunitária Andrea Blas. “Estamos observando um aumento considerável nos casos de desnutrição, diarreia e malária”.

O número de pessoas com desnutrição aguda grave observado pelas equipes de MSF no centro de saúde Elevage, na área muçulmana da cidade, aumentou de três novos casos, em janeiro, para 17 em maio, enquanto pacientes com desnutrição moderada passaram de 36, em janeiro, para 126 em maio.

Bambari pode estar pacífica no momento, mas ninguém sabe o quanto isso irá durar. “Depois dos incidentes em Alindao, as pessoas estão cada vez mais preocupadas”, diz o coordenador de projeto de MSF Cédric Chapon. “A instabilidade já afetou a maioria das grandes cidades, com exceção de Bambari. Mas as pessoas estão com medo. Ainda que a situação seja pacífica entre as duas comunidades no momento, há o risco de que qualquer pequeno crime possa ser interpretado como um ato de provocação, o que pode detonar uma onda de violência entre as comunidades em Bambari”.

 

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