República Centro-Africana: 10 mil pessoas dormem no hospital de Batangafo

O campo em que as famílias se abrigavam na região foi saqueado e queimado

República Centro-Africana: 10 mil pessoas dormem no hospital de Batangafo

Cerca de 10 mil pessoas se abrigam no terreno do hospital de Batangafo mais de 10 dias após a eclosão de violência entre grupos rivais nesta cidade do norte da República Centro-Africana (RCA), de acordo com a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Com os confrontos ocorrendo entre membros da ex-coalizão Seleka e os chamados grupos de autodefesa, Batangafo voltou a cair no caos, com uma onda de assassinatos e pilhagens. Uma série de organizações de ajuda foram roubadas, incluindo MSF, enquanto uma grande parte do acampamento da cidade para pessoas deslocadas foi saqueada e queimada, forçando as pessoas a procurarem abrigo em outros lugares.

O acampamento para pessoas deslocadas, que foi estabelecido há três anos, precisa ser reconstruído o mais rápido possível, diz MSF, assim como precisam ser reunidas todas as condições para permitir que as pessoas retornem com segurança. Enquanto isso, MSF está fornecendo serviços básicos de água e saneamento para pessoas que se abrigam nos terrenos do hospital, que é apoiado por MSF.

"As pessoas que se refugiam no hospital e em outros locais em torno de Batangafo ainda não conseguiram reconstruir seus abrigos no campo do qual foram forçadas a fugir", diz o coordenador do projeto de MSF, Carlos Francisco. "Como solução momentânea, estamos fortalecendo o sistema de abastecimento de água nos recintos hospitalares, além de fornecer latrinas e melhorar a higiene. Mas as pessoas devem ter permissão para reconstruir seus lares o mais rápido possível e retornar ao campo em segurança".

A maioria das pessoas que se abrigam no hospital de Batangafo deixa o terreno durante o dia e volta para dormir lá à noite, mas na RCA, nem mesmo os hospitais são lugares de segurança. Nas últimas semanas, os hospitais em Bangassou e Zemio foram invadidos à força por grupos armados. Em incidentes condenados por MSF, homens armados em Bangassou levaram duas pacientes, que mais tarde foram encontradas mortas; enquanto em Zemio, homens armados atiraram e mataram uma criança nos braços de sua mãe.

"Grande parte da população em geral está em estado de completo desamparo", diz Francisco. "Imagine como deve ser a situação quando as pessoas pensam que a única opção segura que lhes resta é um hospital, sabendo que nem mesmo os hospitais estão seguros".

Duas ondas de luta envolveram Batangafo nos últimos 10 dias – a primeira no sábado 29 de julho e a segunda, na terça-feira, 1 de agosto – resultando em 24 mortos e 17 feridos. Alguns dos feridos foram tratados no hospital de Batangafo e incluíam combatentes de ambos os grupos.

Os serviços hospitalares foram interrompidos pelos recentes combates, com consultas gerais sendo suspensas e apoio extra sendo fornecido à sala de emergência, mas já foram restabelecidos. A atmosfera em Batangafo permanece tensa, apesar do fato de que os líderes dos grupos rivais afirmam ter chegado a um acordo para evitar o ressurgimento do conflito.

Desde novembro passado, a RCA viu um agravamento do conflito iniciado em 2013/14. Nos últimos meses, mais de 180 mil pessoas fugiram de suas casas. O número de pessoas deslocadas aumentou para mais de 400 mil, enquanto cerca de 500 mil pessoas permanecem refugiadas nos países vizinhos, de uma população total estimada de pouco mais de 4,5 milhões de pessoas.

MSF trabalha na República Centro-Africana desde 1996 e atualmente conta com mais de 2.400 profissionais da África Central e 230 profissionais internacionais trabalhando no país. Desde 2013, MSF dobrou seu nível de apoio médico em resposta à crise. Atualmente, MSF mantém cerca de 20 projetos em todo o país, com equipes médicas que prestam cuidados de saúde gratuitos, incluindo cuidados pediátricos, vacinas de rotina, cuidados de saúde materno e cirurgia, bem como tratamento de doenças como o HIV e a tuberculose.
 

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