MSF lança campanha global para reduzir o preço de vacina para US$5 em países em desenvolvimento

Campanha pede questionamento da indústria farmacêutica sobre como os países podem ter acesso a vacinas a preços justos se a precificação é mantida em segredo

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A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) lançou, no dia 23 de abril, uma campanha global – “A dose justa” – para pedir às farmacêuticas GlaxoSmithKline (GSK) e Pfizer que reduzam o preço da vacina pneumocócica em países em desenvolvimento para US$5 por criança, para que mais crianças possam ser protegidas desse assassino da infância, e que revelem o que é atualmente cobrado dos países pela vacina.

Para lançar a campanha, a equipe de MSF foi a uma reunião de acionistas da Pfizer em Nova Jersey para fazer questionamentos, pressionando os membros do corpo diretivo da companhia a relevarem o preço cobrado pela vacina pneumocócica em todos os países. MSF também distribuiu documentos com informações ocultadas por tarjas pretas para destacar o sigilo mortal acerca do estabelecimento da construção do preço da vacina.

Em janeiro, MSF divulgou o relatório “A dose certa: derrubando barreiras para vacinas acessíveis e adaptadas”, que demonstrou que, nos países mais pobres, o preço para vacinar uma criança é atualmente 68 vezes mais caro do que em 2011, e muitas regiões do mundo não podem arcar com os novos e altos custos das vacinas, como a que combate a doença pneumocócica, que mata cerca de um milhão de crianças por ano.

“Como médicos que já viram muitas crianças morrerem de pneumonia, lutando para respirar, estamos pedindo a qualquer um que se importe com a vida das crianças para que se junte a nós em nosso pedido público a Pfizer e a GSK para garantirem que países em desenvolvimento possam arcar com os custos para proteger todos os seus bebês contra essa doença mortal”, afirmou o Dr. Greg Elder, diretor de operações de MSF em Paris. “Os altíssimos preços cobrados pela Pfizer e pela GSK pela vacina pneumocócica impedem que muitos governos e organizações humanitárias vacinem crianças. Depois de observar o custo de vacinação de uma criança aumentar substancialmente na última década, não temos alternativa que não agir imediatamente.”

Parte da razão pela qual a vacinação se tornou tão custosa está associada ao fato de que pouquíssimas informações sobre o preço das vacinas estão disponíveis, o que enfraquece a posição de países em desenvolvimento e agências humanitárias no momento de negociar com as companhias farmacêuticas, porque não há como comparar preços. Alguns países têm de assinar termos de confidencialidade que os impedem de revelar o preço que pagam por suas vacinas. Em cerca de 45 países não há informação sobre o preço da vacina pneumocócica (PCV); tal sigilo e falta de transparência das companhias no estabelecimento dos preços impede que governos tenham a chance de proteger suas crianças com uma vacina acessível. A situação já tomou um rumo irracional, pelo qual países de média renda pagam mais pela vacina pneumocócica do que países ricos: a Tunísia paga mais que a França e alguns países pagam múltiplas vezes mais do que outros. A África do Sul paga praticamente três vezes mais do que o Brasil pela vacina.

“É um absurdo que a informação acerca da constituição do preço de um produto que salva vidas seja mantido em sigilo, mantendo países e organizações de mãos atadas na tentativa de negociar preços justos”, diz o Dr. Manica Balasegaram, diretor executivo da Campanha de Acesso a Medicamentos de MSF. “O nível do sigilo das farmacêuticas é espantoso; não conseguimos informações da Pfizer e nem da GSK sobre o que é cobrado dos países pela vacina pneumocócica. A questão que colocamos hoje é: como é possível que qualquer país negocie preços justos pelas vacinas quando falta informação essencial?”

Na Semana da Imunização, MSF pede ao público que apoie sua campanha nas redes sociais, para que se faça ainda mais pressão sobre as companhias farmacêuticas, para que sejam mais transparentes. MSF está pedindo que você também #PeçaÀsFarmacêuticas que revelem o preço da vacina pneumocócica e que a GSK e a Pfizer reduzam o preço da vacina para US$5 ou menos por criança – US$1,66 por dose para três doses – em países em desenvolvimento.

A cada ano, equipes de MSF vacinam milhões de pessoas, muitas delas em meio a campanhas em resposta a epidemias de doenças como o sarampo, meningite, febre amarela e cólera. A organização também presta suporte a atividades de imunização de rotina em projetos nos quais oferece cuidados de saúde a mães e crianças. Apenas em 2013, MSF ofereceu mais de 6,7 milhões de doses de vacinas e produtos imunológicos. No passado, a organização adquiriu a vacina pneumocócica conjugada para uso em operações de emergência. Em 2013, MSF vacinou com a PCV e a vacina pentavalente no campo de refugiados de Yida, no Sudão do Sul. Em 2014, atividades de vacinação similares com a vacina PCV foram conduzidas para refugiados na Uganda e na Etiópia. MSF está ampliando o uso da vacina PCV e de outras vacinas com o objetivo específico de melhorar sua atuação em imunização de rotina, bem como de estender o pacote de vacinas utilizado em meio a emergências humanitárias.
 

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