Líderes G8 têm que fazer algo para conter a crise alimentar

Nos últimos dois anos, MSF tratou mais de 150 mil crianças desnutridas em 22 países com alimentos terapêuticos

Médicos Sem Fronteiras (MSF) pediu nesta quinta-feira que os líderes do G8, que se encontrarão na próxima semana no Japão, tomem decisões corajosas para financiar de maneira adequada a ajuda alimentar e os programas nutricionais voltados para as crianças.

Com a crise de desnutrição contribuindo com entre três milhões a cinco milhões de mortes infantis anualmente, o encontro deve se comprometer a fornecer fundos para implementar estratégias novas e eficazes para abordar a desnutrição.

No encontro do G8 realizado no Japão em 2000, os líderes mundiais mostraram que eles podiam agir para estimular uma mudança concreta através da criação do Fundo Global para o Combate à Aids, Tuberculose e Malária. Desta forma, hoje há um apoio significante para um país que quer, por exemplo, expandir seu tratamento de Aids. MSF pede o mesmo nível de compromisso do G8 para reduzir significantemente a desnutrição infantil.

"Há uma necessidade urgente de agir agora para aumentar o tratamento para crianças que têm mais risco de morrer devido à desnutrição", afirmou a médica Susan Shepherd, conselheira nutricional da Campanha de Acesso a Medicamentos de MSF. "Noventa e cinco porcento das crianças com a forma mais grave da desnutrição não recebem tratamento adequado. Os líderes do G8 podem tomar as medias necessárias para fazer com que esse tratamento chegue às crianças".

As Nações Unidas estimam que US$ 8 bilhões serão necessários cada ano para financiar estratégias nutricionais compreensivas para crianças e mulheres de mais de 100 milhões de famílias que correm risco. Deste total, US$ 1,5 milhões são necessários atualmente para tratar as crianças que apresentam mais risco de morrer devido à forma mais grave da desnutrição. Os líderes do G8 precisam garantir que os países afetados possam ampliar seus programas e que sabiam que alimentos ricos em nutrientes e prontos para uso estão disponíveis gratuitamente.

MSF tem observado índices alarmantes de desnutrição em seus projetos em vários dos chamados focos de desnutrição, incluindo Níger e Etiópia. O "período de fome" entre as colheitas, além da seca, fez com que o nível de desnutrição aumentasse. Em Oromiya, e em projetos na região sul da Etiópia, MSF já atendeu mais de 6,5 mil crianças desnutridas desde meados de maio.

Desnutrição é uma emergência que está exacerbada pelo aumento dos preços de alimentos. Quando o preço de comidas aumenta, as famílias pobres têm de cortar de suas dietas os caros alimentos de origem animal, como ovos e latícinos, além de carnes. Esses são alimentos chaves para garantir que as crianças possam crescer de maneira apropriada e consigam evitar a doença.

No entanto, atualmente a ajuda alimentar destinada às crianças consiste em um mingau feito de milho e farinha de trigo ou soja, sem nenhum alimento de origem animal, o que não é eficaz para o tratamento da desnutrição. O derivado de leite usado nessas farinhas enriquecidas para as crianças foi cortado da ajuda alimentar americana no fim dos anos 80 por razões econômicas, quando não havia mais excedentes de laticínios. Soluções de baixo custo nesse caso podem ser perigosas.

À medida que mais famílias se perguntam como vão alimentar seus filhos, MSF pergunta aos líderes do G8 se eles querem fazer um investimento substencial e sustentável no futuro das crianças.

"Nós todos sabemos quais alimentos são importantes para que as crianças cresçam saudáveis, então como os líderes mundias podem estar satisfeitos em enviar alimentos que não dariam a seus próprios filhos", pergunta Dr. Shepherd. "Sem um compromisso concreto e de longo prazo, estamos nos iludindo ao pensar que temos um impacto significante no tratamento e prevenção da desnutrição infantil".

MSF tratou mais de 150 mil crianças em 2006 e 2007 em 22 países com alimentos terapêuticos e suplementos alimentares.

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