Jordânia: acesso a cuidados médicos vitais é negado a sírios pelo terceiro mês consecutivo

Após o fechamento da fronteira entre Síria e Jordânia, milhares de sírios estão presos na região conhecida como Berma e não recebem quaisquer cuidados médicos há três meses; feridos de guerra sírios também não conseguem mais transferência para ser operado

Jordânia: acesso a cuidados médicos vitais é negado a sírios pelo terceiro mês consecutivo

Três meses depois de a Jordânia fechar sua fronteira com a Síria, milhares de sírios continuam impedidos de buscar cuidados médicos essenciais na Jordânia, afirma a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Mais de 75 mil sírios – três quartos deles mulheres e crianças – estão presos na área desértica conhecida como Berma, na fronteira nordeste da Jordânia. Durante o curto período em que MSF pôde trabalhar na região, em maio e junho, suas equipes médicas constataram necessidades médicas extensas, especialmente crianças que sofrem e desnutrição e diarreia. Recentemente, MSF recebeu relatos de um novo surto, mas, com todo o acesso negado, a doença não pode ser identificada e tratada.

“Há relatos de um surto de doença respiratória, com tosses persistentes, que teria causado diversas mortes”, diz a dra. Natalie Thurtle, líder da equipe médica de MSF. “Como não há vacinação, existe o risco de ser coqueluche. Esses casos só podem ser identificados e tratados se tivermos acesso físico a esses pacientes.”

Um ataque com carro-bomba próximo à Berma no dia 21 de junho levou a Jordânia a fechar completamente suas fronteiras com a Síria, forçando MSF a encerrar todas as suas atividades na Berma. O fechamento das fronteiras piorou uma situação humanitária já dramática para os sírios que estão presos no local, que contam com pouca água e pouco alimento e estão vivendo em condições extremamente insalubres. Apesar de terem recebido pequenas quantidades de água e alimentos, eles não têm acesso a cuidados médicos desde junho.

“Os sírios presos na Berma estão vivendo em condições horríveis, em um deserto desprovido de qualquer tipo de vegetação, onde as temperaturas chegam a 50 graus no verão e onde os invernos são extremamente frios e rigorosos”, diz Luis Eguiluz, chefe de missão de MSF na Jordânia. “Primeiramente, eles precisam receber ajuda humanitária de forma integral e continuada, o que inclui o livre acesso a cuidados médicos essenciais e de qualidade.”

Diante da atual situação de desespero na Berma, MSF faz um apelo para que o governo da Jordânia remova as restrições à ajuda humanitária e permita que sua equipe médica tenha acesso à Berma, de forma que possam avaliar diretamente as necessidades médicas dos sírios presos no local. MSF destaca que não irá apoiar qualquer proposta que vise mandar os sírios de volta para o interior da Síria ou que impeça a prestação imparcial de cuidados de saúde de qualidade. MSF novamente faz um apelo para que seja encontrada uma solução de longo prazo para a situação dos sírios que se encontram presos na Berma.

No outro extremo da fronteira entre Síria e Jordânia, mais de 250 quilômetros a oeste da Berma, feridos de guerra sírios que antes eram transferidos pelo sul do país continuam sendo impedidos de ter acesso ao programa de cirurgias emergenciais de MSF na cidade jordaniana de Ramtha. Entre setembro de 2013 e o fechamento da fronteira, em junho, mais de 2.400 sírios feridos foram atendidos por MSF na emergência do hospital de Ramtha, mas agora os centros e alas de cirurgia estão quase vazios.

“Atualmente, o nosso hospital está quase vazio, com apenas nove pacientes, quando sabemos que milhares de sírios feridos estão a apenas cinco quilômetros de distância, mas não podem ter acesso a tratamento por causa dessa barreira”, diz o coordenador de projeto de MSF Michael Talotti. “O sentimento é de impotência quando você sabe que o número de vítimas está crescendo continuamente e, mesmo assim, a sala de emergência e os centros cirúrgicos estão silenciosos e vazios.”

Desde o dia 21 de junho, MSF registrou 56 casos de feridos de guerra sírios que precisavam ser transferidos emergencialmente e foram impedidos de cruzar a fronteira para a Jordânia. Onze desses eram crianças com idades entre 3 e 14 anos.

MSF reforça o apelo feito ao governo da Jordânia para que autorize a retomada imediata das transferências médicas de feridos de guerra sírios pelas fronteiras do noroeste da Jordânia, de modo que eles possam ter a chance de receber cuidados médicos essenciais que não existem na Síria.

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