Haiti: MSF recebe mais pacientes com doenças não associadas ao terremoto

Fluxo de pessoas com doenças consideradas comuns volta a fazer parte da realidade das atividades médicas da organização no país

Uma das tendências que emergem do trabalho de Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Haiti é a volta da proeminência do que pode ser chamado de doenças e condições “normais” observadas nas pessoas que têm procurado as clínicas. As consideráveis lacunas no sistema de saúde do país, já existentes antes do terremoto, fizeram com que as unidades de emergência de MSF estivessem sempre funcionando.  

A destruição de grande parte dos serviços médicos mais básicos significa que, além do contínuo serviço de bandagem de feridos no terremoto, há também um fluxo de todo tipo de pacientes. No Hospital de Martissant, em Porto Príncipe, há cada vez mais crianças chegando com doenças como diarreia ou infecções respiratórias. Na cidade de Leogane, o cada vez maior raio de alcance das clínicas móveis de MSF agora atinge 350 pacientes por dia, muitos deles associados a essas consultas mais cotidianas. No Hospital Chancerelle, na capital, houve um grande aumento no número de maternidades e casos obstétricos. A equipe no local transformou um pequeno estoque em uma maternidade, aumentando o número de camas de 18 para 40.  Uma média de 12 crianças por dia tem nascido lá. Parte da explicação para esse aumento se deve ao fato de que mais pessoas na cidade estão a par da existência de um centro especializado que está funcionando.

A condição provocada pelo terremoto que continua a ser registrada nas clínicas de MSF é o trauma psicológico, que afeta muitas pessoas que sobreviveram ao desastre. Nas clínicas móveis em Leogane e em Porto Príncipe, cerca de 20% dos pacientes que procuram ajuda estão sofrendo de problemas de saúde mental. Os sintomas clássicos são ansiedade, desespero, distúrbio do sono e até mesmo raiva. Dependendo da cultura da pessoa envolvida, pode haver mais ou menos sintomas derivados da repressão dessas emoções. No Haiti, há relativamente pouco estigma associado com esses sentimentos, então os psicólogos de MSF e os psiquiatras lá relatam que os sinais físicos são limitados a dores de cabeça e falta de apetite.

O mais recente trabalho mental realizado por MSF foi com amputados. O oferecimento mais generalizado de atendimento pós-operatório ainda é uma grande prioridade no Haiti devido à falta de leitos para esse cuidados a longo prazo. MSF transferiu os primeiros 20 pacientes do Hospital Inflável St Louis para a “vila de tendas” pós-operatória perto de Delmas 30. O Hospital Bicentanaire tem outros 60 leitos prontos. Um tratamento especial para pacientes como tétano também está sendo criado lá para oferecer cuidados intensivos necessários.

As condições de vida das pessoas que perderam suas casas e agora estão em acampamentos improvisados é particularmente difícil, com a necessidade de água e saneamento como uma das questões mais urgentes. As mais recentes contribuições de MSF no Haiti são um plano para suprir cerca de 7 mil pessoas que vivem perto do acampamento do Hospital Saint Louis. Outra equipe da organização identificou entre 20 e 30 locais na cidade onde vão trabalhar para oferecer abastecimento de água e latrinas. No total, MSF está aprimorando o acesso à água e saneamento para cerca de 40 mil deslocados em Porto Príncipe e Léogane. A distribuição de itens não alimentares, como cobertores e galões d’água, está em curso e beneficiará para 7 mil famílias.

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