Epidemia de cólera se alastra na fronteira entre Serra Leoa e Guiné

Apesar do aumento do número de casos, a região beneficiada pela campanha de vacinação realizada por MSF em junho não apresentou surtos da doença

Com a chegada da estação das chuvas, o número de casos de cólera está aumentando na fronteira entre a Serra Leoa e a Guiné, no oeste da África. Mais de 13 mil pessoas foram admitidas em hospitais nas capitais dos dois países – Freetown e Conakry – desde fevereiro, quando foi declarada a epidemia da doença. Em colaboração com as autoridades locais, a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) está inaugurando pontos de reidratação adicionais e centros de tratamento de cólera na região. Atualmente, mais de 800 leitos estão disponíveis para o tratamento de pacientes com cólera.

“Eu quero morrer. Eu estou cansado desta doença”, sussurrou um paciente que está recebendo cuidados no centro de tratamento de cólera de MSF na favela de Mabella, em Serra Leoa. Os pacientes mais afetados pela doença emagrecem visivelmente após dias com diarreia, vômito e cólicas intestinais. A doença, que se espalha por meio de água contaminada, é muito comum em Mabella, onde água limpa e instalações sanitárias são escassas. Os agentes de saúde de MSF estão entrando na comunidade para ensinar as pessoas medidas de prevenção da doença, e para mostrar onde elas podem ir para receber tratamento.

Desde o começo da epidemia, equipes médicas de MSF trataram cerca de 4,6 mil pacientes em Serra Leoa e na Guiné. Os países compartilham um reservatório próximo ao mar, que se tornou um “criadouro” para a bactéria transmissora da doença. “Esse ‘cólera da costa’ já matou cerca de 250 pessoas”, disse Michel Van Herp, epidemiologista de MSF. “O reservatório de água permite que o vibrião colérico sobreviva e contamine a população.”
Quando as pessoas são infectadas devido ao contato com água ou alimentos contaminados, a doença se espalha rapidamente, sobretudo quando associada à falta de higiene, à escassez de latrinas e à falta de tratamento de esgoto.

Desde a última grande epidemia da doença na região, em 2007, o cólera vem se manifestando de maneira esporádica na Guiné e na Serra Leoa. Apesar disto, muitas pessoas foram gradualmente perdendo a imunidade contra a doença. Este ano, as pessoas na região estão especialmente vulneráveis. “O número de casos registrados em Conakry é quase o dobro do mesmo período de 2007”, disse Charles Gaudry, representante de MSF na Guiné. “A volta da epidemia mostra claramente que a manutenção de ações de prevenção, durante e entre os surtos da doença, é essencial.”

Erradicar a cólera pode ser algo impossível em muitos países da África, mas campanhas de vacinação direcionadas são fundamentais no combate à doença. “A vacina oral utilizada recentemente por MSF numa região da costa da Guiné conseguiu, até o momento, prevenir um surto da doença na área” disse Gaudry. No entanto, ele adverte: “a vacina não é a solução para todos os problemas. A única maneira de controlar essa doença, a longo prazo, é por meio de grandes investimentos em água e saneamento.”

Na África, foram registrados mais de 85 mil casos de cólera e 2,5 mil mortes por cólera em 2011, segundo informações da Organização Mundial da Saúde. MSF tem vasta experiência para lidar com a doença; a organização tratou mais de 130 mil pacientes com cólera em todo o mundo no ano passado. Entre o final de abril de 2011 e meados de maio deste ano, MSF vacinou 143 mil pessoas por toda a costa da Guiné, em uma ação que contou com a colaboração do Ministério da Saúde do país.

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