Médicos Sem Fronteiras (MSF) administra projetos de grande porte na República Democrática do Congo (RDC), respondendo aos efeitos devastadores da violência e de outras emergências de saúde, como surtos de doenças e desnutrição. 

A situação humanitária se agravou ainda mais no ano passado, em especial devido ao aumento dos níveis de violência armada, com o ressurgimento do grupo armado M23 no Kivu do Norte. O aumento do conflito e da insegurança forçou quase 600 mil pessoas a fugir de suas casas, numa província onde 1,9 milhão já haviam tido de se deslocar anteriormente. 

 

Resposta a emergências relacionadas com a violência 

Ao longo do ano, os combates se concentraram no território de Rutshuru, no Kivu do Norte. Apesar de a maioria das organizações humanitárias terem deixado a região, MSF manteve atividades regulares, apoiando instalações de saúde em Rutshuru, Binza, Kibirizi e Bambo, oferecendo cuidados intensivos, cirurgia, nutrição terapêutica e tratamento para sobreviventes de violência sexual. Além disso, estabelecemos intervenções de emergência para as comunidades de pessoas deslocadas, bem como assistência médica por meio de clínicas móveis e apoio à oferta de cuidados essenciais em postos de saúde localizados próximos aos acampamentos de pessoas deslocados. Ali, nossas equipes também construíram latrinas e distribuíram água e itens de primeira necessidade, como kits de higiene e de cozinha. 

Devido à violência em Rutshuru, dezenas de milhares de pessoas fugiram para o território vizinho de Nyiragongo, perto de Goma, onde se reuniram em assentamentos informais que sofriam com a absoluta ausência de serviços básicos como abrigo, saúde, alimentação e água. MSF foi uma das primeiras organizações a lançar uma intervenção de emergência nos assentamentos de Munigi e Kanyaruchinya. Nossas equipes ofereceram assistência médica geral, tratamento para sobreviventes de violência sexual, referências de pacientes para hospitais de Goma e água potável, na medida em que pediam repetidamente à comunidade humanitária para apoiar a resposta. 

Quando os primeiros casos suspeitos de cólera foram notificados nesses assentamentos em agosto, organizamos uma campanha de vacinação oral. No entanto, em outubro, com a intensificação dos confrontos no território de Rutshuru, houve um grande fluxo de recém-chegados, e um surto de cólera não pôde ser evitado. Durante muitas semanas, os nossos foram os únicos profissionais de saúde atuando na resposta a essa emergência, estruturando centros de tratamento dedicados ao tratamento da doença. 

A violência não se limitou de forma alguma às áreas diretamente afetadas pelo ressurgimento do M23. O conflito eclodiu em outras áreas do Kivu do Norte, como Masisi, e ataques deliberados contra civis continuaram ininterruptos na província de Ituri. Embora a falta de garantias de segurança de nossas equipes tenha nos forçado a encerrar nossos projetos em Nizi e Bambu, no território de Djugu, mantivemos nossas atividades em Drodro e arredores, tratando vítimas de violência e proporcionando acesso a cuidados básicos de saúde, bem como atividades de água e saneamento para comunidades deslocadas e anfitriãs. 

Em outros locais da RDC, nossas equipes apoiaram pessoas afetadas por surtos de violência no território de Tshikula (Kasaï Central) e nas províncias de Mai-Ndombe e Kwilu, onde uma disputa intercomunitária por terras rapidamente fugiu do controle. Nesses locais, nossas equipes organizaram centenas de consultas médicas e encaminharam os feridos graves para a capital, Kinshasa. 

 

Surtos de doenças infecciosas 

Apesar do ressurgimento do M23 ter sido o principal foco da atenção pública no que diz respeito à RDC em 2022, outra crise de saúde pouco divulgada foi novamente a principal causa das intervenções de emergência de MSF: um novo surto de sarampo em todo o país. A doença atingiu níveis epidêmicos em quase metade das zonas de saúde da RDC, com cerca de 150 mil casos e 1.800 mortes notificadas oficialmente.  

 Nossas equipes realizaram 45 respostas específicas contra o sarampo no país, ao mesmo tempo em que executaram suas atividades habituais de imunização e cuidados em projetos regulares. Vacinamos mais de dois milhões de crianças contra o sarampo no decorrer de 2022. 

 Respondemos a outros surtos de doenças durante o ano, incluindo a cólera nas províncias do Kivu do Norte, Kivu do Sul e Kasaï Oriental, onde tratamos pacientes e protegemos dezenas de milhares de pessoas por meio de vacinas orais contra a doença. Também auxiliamos a resposta do Ministério da Saúde a um surto de meningite em Haut-Uélé e a dois surtos de Ebola nas províncias de Equateur e Kivu do Norte. 

 

Atividades regulares de saúde geral e especializada 

Além das respostas de emergência, mantivemos nossas atividades regulares de medicina geral e especializada em todo o país, incluindo tratamento de HIV e tuberculose, saúde sexual e reprodutiva, assistência ao aborto seguro, serviços de saúde mental e apoio a pessoas marginalizadas, como crianças em situação de rua, detentos e profissionais do sexo. Apoiamos também na reabilitação e na construção de várias unidades de saúde. 

A desnutrição continuou sendo um problema médico importante em várias províncias, o que nos levou a lançar intervenções específicas em Tshopo, Kivu do Sul e Haut-Uélé. A malária também permaneceu sendo uma das principais doenças tratadas por nossas equipes no país. Em 2022, durante a alta temporada da doença, lançamos atividades específicas de prevenção e tratamento para apoiar as autoridades de saúde no Kivu do Sul. Também realizamos grandes campanhas de pulverização domiciliar e atividades de administração de medicamentos em massa, esta última consistindo na distribuição de uma quimioprofilaxia contra malária, em Angumu, Ituri, para reduzir a alta prevalência da doença na região. 

Enquanto isso, o número de pacientes admitidos por violência sexual permaneceu notadamente elevado nas cinco províncias onde temos projetos dedicados aos sobreviventes, oferecendo-lhes cuidados médicos e psicológicos abrangentes. Como parte de uma abordagem inovadora para responder ao alto nível de violência sexual em Salamabila, nossas equipes trabalharam com a comunidade para criar duas “escolas de marido”, espaços onde homens participam de sessões de conscientização sobre violência sexual. O objetivo é informá-los e influenciá-los de maneira positiva, pois geralmente, são o eles s principais tomadores de decisão em suas famílias e comunidades. 

A amplitude das atividades realizadas por MSF na RDC em 2022 reflete mais uma vez a magnitude das necessidades médicas humanitárias no país. No final do ano, mais de 26 milhões de pessoas precisavam de assistência e mais de 5,7 milhões permaneciam deslocadas, o maior número de pessoas deslocadas no continente africano.1 

Dados referentes a 2022

2.116.500

Consultas ambulatoriais

13.600

Intervenções cirúrgicas

2.143.600

Doses de vacinas aplicadas contra o sarampo em resposta a um surto

10.000

Pessoas tratadas por causa de violência sexual

757.800

Casos de malária tratados

1.900

Pessoas com HIV avançado sob cuidados diretos de MSF

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