Etiópia: Condições críticas para refugiados sul-sudaneses em Gambella

Se no início da crise, em 2013, as pessoas chegavam à região com medo dos conflitos no Sudão do Sul, agora é a fome a principal razão para que elas busquem abrigo no país vizinho

Refugiados sul-sudaneses continuam a chegar a Gambella, Etiópia, fugindo de suas casas por causa da violência. Eles caminham dias em busca de abrigo seguro e comida. No final de junho entre 600 e 800 refugiados chegavam diariamente ao acampamento transitório de Burubiey. Mais de 140 mil refugiados sul-sudaneses estão em Gambella desde o início do conflito em curso desde dezembro de 2013.
 
Os principais campos de refugiados em Gambella permanecem lotados. Há planos para expandir os novos acampamentos de Kule 1 e 2, que registram 51.476 e 37.287 refugiados, respectivamente. O antigo acampamento de Leitchuor abriga outros 47.469 refugiados.
 
Apesar de tendas apropriadas terem sido distribuídas aos refugiados nos acampamentos Kule 1, Kule 2 e Lietchuor, muitas pessoas em Kule 1 e Lietchuor ainda têm apenas pedaços de plástico para se protegerem das chuvas.
 
Os recém-chegados primeiramente ficam em acampamentos transitórios. O acampamento transitório de Burubiey, sobrecarregado em maio por cerca de 20 mil pessoas que fugiam dos conflitos em Nasir, foi esvaziado na metade de junho. Refugiados que estavam vivendo em condições muito difíceis foram transferidos para os acampamentos Kule 1 e Kule 2. Devido às estradas alagadas, barcos foram usados para transportar os refugiados. Entretanto, o acampamento está cheio novamente por causa do recente influxo de refugiados esperando para serem transferidos às instalações permanentes. Mais de 7.700 refugiados estão nos acampamentos transitórios de Akobo e Pagak.
 
Água limpa é uma grande prioridade para que as pessoas, em acampamentos lotados, possam beber, lavar e cozinhar. MSF gere um centro de tratamento de água que produz em média um milhão de litros de água limpa por dia para os refugiados. A meta diária é atingir os 15 litros por indivíduo. As pessoas no acampamento de Pagak já recebem a quantidade completa, já aqueles que estão no acampamento de Kule recebem 14 litros. No acampamento de Lietchuor, a distribuição é de 10 litros por pessoa, e em Kule 1, oito litros.
 
Saneamento e higiene também são prioridade. MSF construiu dois terços das 1.200 latrinas previstas para os acampamentos e quase todos os pontos para lavar as mãos, mas até agora apenas 30 de um total de 500 chuveiros.
 
Nesse contexto, desnutrição é um problema sério. Refugiados afirmam que comida e abrigo seguro são grandes motivações para a chegada a Gambella. “Em maio, sul-sudaneses fugiram devido aos conflitos”, diz a Dra. Natalie Roberts, coordenadora médica de MSF em Gambella. “Agora dizem que deixaram seu país por causa da falta de alimento.”
 
Recém-chegados aos acampamentos Kule 1 e Kule 2 já estão desnutridos. A distribuição de alimentos nos campos é pouco eficiente, forçando muitas mulheres, por exemplo, a andar nove quilômetros do acampamento Kule 1 até a cidade para moer seus grãos.
 
O índice de desnutrição geral permaneceu alto em meados de junho: 20% para desnutrição global e 6% para desnutrição severa. É um avanço em relação à semana anterior, mas ainda acima do limiar de emergência de 5% de crianças com desnutrição severa.
 
As crianças são as mais vulneráveis, contraem infecções respiratórias, diarreia e, agora, malária porque a temporada de chuvas começou. Desde que a epidemia de sarampo em Gambella foi controlada, em maio, os sul-sudaneses recém-chegados estão entre a maioria dos pacientes diagnosticados com a doença. Cólera representa mais um risco por causa da epidemia no Sudão do Sul. MSF espera lançar uma campanha de vacinação, com a aprovação do ministério da saúde, a Administração para Assuntos de Refugiados e Repatriados (ARRA, em inglês) e ACNUR, com uma meta de alcançar 130 mil pessoas, incluindo refugiados e residentes.
 
MSF conduziu 35.361 consultas médicas no acampamento de Lietchuor e em Itang, desde o início de março, e 2.523 consultas médicas nos acampamentos Kule 1 e Kule 2 durante uma semana em meados de junho. Durante o mesmo período, MSF tratou 812 casos de malária nos acampamentos de Lietchuor, Itang, Burubiey, Kule 1 e Kule 2. Esse número tende a aumentar. MSF também ofereceu tratamento a 1.060 crianças admitidas nos dois centros intensivos de nutrição terapêutica entre março e julho.
 
Finalmente, MSF conseguiu diminuir o índice de mortalidade nos dois hospitais que mantém no acampamento de Lietchuor (100 leitos) e em Itang (130 leitos), próximo ao acampamento de Kule, a 11% e 7% em junho passado, respectivamente. Mas a situação pode piorar com a temporada de chuvas e o aumento de epidemias relacionadas.
 
MSF está atualmente oferecendo tratamento médico a refugiados sul-sudaneses no acampamento  transitório em Pagak, no acampamento transitório de Burubiey e nos três campos de Liectchuor, Kule 1 e Kule 2, assim como em Itang.  Além disso, MSF continua a entregar serviços de água e saneamento aos acampamentos de Pagak, Kule 1, Kule 2, eBurubiey em Gambella, Etiópia.

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