Síria: segurança dos feridos e dos médicos deve ser prioridade

Pacientes e equipes médicas continuam sendo alvos de ataques e ameaças

Há meses MSF vem tentando obter autorização oficial para trabalhar com equipes médicas nas províncias sírias mais afetadas pela violência. Até agora, nenhum dos esforços diretamente feitos com as autoridades sírias ou por meio dos vários intermediários foi bem-sucedido.  No entanto, a organização conseguiu entrar na província de Idlib, após chegar em Homs, onde encontraram equipes médicas e pacientes sob ameaça de ataques e sequestros.

De acordo com informações divulgadas hoje (15/5) pela organização humanitária Médicos Sem Fronteiras em visita a regiões da Síria, pessoas feridas e equipes médicas continuam sendo alvo de ataques e ameaças. MSF insiste que todas as partes envolvidas no conflito assegurem o respeito à integridade física de feridos e médicos e às instalações médicas. Para que a segurança de profissionais e feridos seja garantida, são urgentes mais esforços políticos e diplomáticos, sem uso de violência.

“Ser pego com pacientes é como ser pego com uma arma”, disse um cirurgião ortopédico encontrado por MSF em uma aldeia de Idlib. “A atmosfera, na maioria das unidades médicas, é extremamente tensa; equipes têm enviado pacientes feridos para casa após oferecerem apenas serviços de primeiros-socorros. Assim, as unidades podem ser evacuadas rapidamente caso alguma operação militar venha a acontecer.”

“Vários colegas sírios constam como desaparecidos”, disse Marie-Noëlle Rodrigue, diretora de operações de MSF em Paris. “Tanto autoridades quanto as partes envolvidas no conflito devem garantir que as equipes médicas possam trabalhar sem medo de retaliações e que pessoas feridas possam procurar cuidados emergenciais em segurança, sem precisar recorrer a clínicas improvisadas com medo de serem presas ou pior.”

Embora MSF tenha uma visão parcial sobre o cenário médico na Síria por conta da falta de autorização para trabalhar no país, as informações obtidas pela organização em Idlib são coerentes com os testemunhos em Homs. “Nós vimos instalações médicas militarizadas, o que significa que o acesso a serviços de saúde depende do lado em que se está”, disse Brice de Le Vingne, diretor de operações de MSF em Bruxelas. “Instalações de saúde têm sido alvo de saques e são destruídas, o que coloca pacientes em risco e impossibilita agentes de saúde de realizar suas tarefas.”

Durante o curto período em que estiveram na região de Idlib, equipes de MSF conseguiram executar alguns procedimentos médicos de emergência. “Trabalhamos em um hospital público tanto quanto pudemos por três dias sem parar”, contou um cirurgião de MSF. “Operamos 15 pessoas feridas e tivemos que arrumar tudo e partir dez minutos após sermos notificados de um ataque iminente. Em outro local na região de Idlib, uma sala de cirurgia foi fechada porque seria muito perigoso operar pacientes feridos”, disse ele. “Médicos foram ameaçados e nos desencorajaram a montar uma unidade de saúde por conta do risco da situação”, explicou, mencionando que outro hospital havia sido destruído.
 
“Pudemos observar equipamentos médicos e suprimentos”, relembra o cirurgião. “Algumas vezes, recursos e infraestrutura estão ali, mas o medo e os riscos de capturas são tão grandes que os médicos hesitam em tratar pacientes.”

Ainda sem autorização oficial para trabalhar na Síria, MSF continua a apoiar redes de médicos sírios em Homs, Derah, Hama, Damasco e Idlib, entregando mantimentos e medicamentos vindos de países vizinhos. MSF também trata feridos e torturados em um hospital cirúrgico em Amã, na Jordânia. Além disso, a organização está oferecendo serviços de saúde primários e apoio psicológico aos refugiados sírios no Líbano.

MSF reitera seu pedido por autorização para atuar na Síria. A organização está pronta para mobilizar rapidamente suas equipes médicas e cirúrgicas e está determinada a trabalhar de forma independente, oferecendo cuidados para qualquer um que necessite.

A primeira manifestação de MSF sobre os abusos sofridos pelas instalações de saúde e os riscos aos quais pacientes e médicos estão submetidos foi feita no início de fevereiro.

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