“Pessoas estão morrendo, pessoas estão sofrendo; é uma crise”

Relato em primeira mão denuncia situação de refugiados recém-chegados ao Sudão do Sul

Cerca de 35 mil refugiados sudaneses chegaram ao Sudão do Sul desde maio. Por conta da superlotação dos acampamentos já existentes na região, eles tiveram de ser assentados em locações temporárias – primeiramente em um local chamado “km43” e, logo que a água acabou, no “km18” – onde dormiam debaixo de árvores, sem abrigo ou alimentos. A necessidade de reassentamento dessas pessoas era – e ainda é – urgente. Mas a chegada das chuvas dificulta a locomoção na região e está atrasando o reassentamento dos refugiados, que ainda são 8 mil pessoas no km18. A líder da equipe médica de MSF na região, Ema Rijnierse, descreve a situação.

 “Não há nada aqui que não seja uma dificuldade. Em apenas uma manhã no “km43”, testemunhamos seis mortes. Uma mulher estava tão desidratada que morreu assim que chegou à clínica. É nítido que pessoas estão morrendo, assim como é também uma certeza que eles estão sofrendo e que essa é uma crise. Não podemos assistir a isso de braços cruzados – temos que fazer todo o possível para melhorar as condições de vida dessas pessoas.

As estradas são um pesadelo, principalmente depois de chuvas que tornam praticamente impossível a tarefa de chegar às pessoas que precisam de ajuda. Temos apenas alguns lugares no carro, então levamos conosco os mais doentes – há pessoas que deixamos para trás na esperança de vê-las no dia seguinte. Como médica, isso é algo muito doloroso de se fazer. Mas não temos escolha; temos de priorizar os pacientes em estado mais crítico.

O problema desses abrigos temporários para os refugiados é que não há organizações humanitárias suficientes em campo. Essas pessoas caminharam por semanas para chegarem aqui e, por isso, já estão enfraquecidas, principalmente as mais vulneráveis – idosos, crianças com menos de cinco anos e gestantes. MSF forneceu água no “km43”, mas o tanque no qual estávamos tratando água para distribuir secou. Não há mais água no “km43”. Agora estamos tratando e distribuindo água no outro acampamento temporário, o “km18”, mas também acabará em breve. Esse é o motivo pelo qual a agência para refugiados das Nações Unidas e seus parceiros devem realocar esses refugiados sem demora.

Todos os dias trabalhamos na clínica que montamos sob um tenda. Temos de fazer triagens para nos assegurar de que estamos atendendo os casos mais severos. Há alguns dias, pouco antes de sairmos da clínica no “km18”, uma pequena criança foi trazida com dificuldade para respirar e em estado de choque médico. Conseguimos salvá-la, e isso me lembrou os motivos pelos quais estamos aqui e do que somos capazes, mesmo nas mais duras circunstâncias.”

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