No embalo da saúde

Dançando e cantando, mães de Serra Leoa aprendem a evitar a desnutrição infantil e a proteger as crianças da malária

No hospital de MSF em Bo, em Serra Leoa, os agentes de saúde estão utilizando música e dança para transmitir mensagens sobre como se manter saudável. Por meio de ritmos e melodias tradicionais, mães aprendem a importância da amamentação e como proteger seus filhos da malária. Essa iniciativa acontece paralelamente às atividades médicas focadas em saúde materna e no tratamento da desnutrição e da malária.

Sob a sombra de uma cabana de palha, cerca de 30 mulheres, muitas delas com seus frágeis bebês amarrados ao corpo, formam um semicírculo. Ao centro, Christina Jonny, uma leonesa de 30 anos, que trabalha com MSF como educadora de saúde. Ela aponta um painel com ilustrações de diversos alimentos – abacaxis, mangas, bananas, vegetais, peixe e frango – enquanto explica a importância de uma dieta rica em nutrientes.

Em Serra Leoa, a desnutrição, que é muito comum, contribui enormemente para a mortalidade infantil. Paradoxalmente, o país é rico em vegetação e recursos naturais. Não é a falta de alimentos, mas, sim, a escassez de nutrientes nesses alimentos o motivo pelo qual a desnutrição em Serra Leoa, como em tantos outros países pobres, tomou grandes proporções. Uma pesquisa realizada por MSF em 2010 mostrou que quase 4% das crianças com menos de cinco anos no distrito de Bo estão severamente desnutridas, o que aumenta o risco de morte por outras doenças comuns, como a malária. No ano de 2011, MSF tratou 1607 crianças com desnutrição aguda severa no centro de alimentação terapêutica intensiva da organização em BO.

De um canto, outro agente de saúde de MSF começa a embalar uma batida rítmica. Dali a pouco, todas as mulheres levantam-se, batendo palmas e gingando os quadris enquanto repetem as frases de Christina sobre a importância da amamentação.

O repertório de Christina é composto de cinco músicas, cada uma sobre um tema de saúde. O ambiente é relaxante e jovial, muito diferente daquele encontrado na unidade de cuidados intensivos a apenas cem metros dali, onde outra equipe de MSF batalha para salvar as vidas de pequenas crianças que sofrem com casos graves de malária e anemia.

“As mulheres e crianças realmente gostam quando começamos a batucar”, contou Christina, após finalizar a sessão. “Eles cantam, se divertem e sorriem. Sentem-se à vontade, como em suas casas. A música tem o poder de prolongar uma mensagem; se cantarem, eles se lembrarão do que ensinamos.”

Christina costuma adicionar novas letras a melodias e ritmos tradicionais para compor as músicas, que são cantadas tanto em Krio – uma versão local do inglês, desenvolvida por escravos libertos que retornaram à América e ao Caribe – ou em Mende, língua nativa falada no distrito de Bo.

“Eu não sou formada em música”, ela explica, “e compor não é sempre fácil. Tem de ser algo que agrade às pessoas e tenha uma boa batida. Mas como agente de saúde, preciso conhecer diversos tipos de músicas sobre saúde para conseguir transmitir mensagens. Adoro a música tradicional de Serra Leoa, mas também gosto de hip hop.”

Mariatu, 32 anos, participou hoje da atividade musical voltada para a saúde. Ela é mãe de James, um garoto de 11 meses que está desnutrido e sendo tratado por MSF. “Eu adoro essas atividades, embora não saiba cantar bem. Cantar e dançar é ótimo para o povo daqui, porque faz com que afastemos nossas mentes de depressões e ansiedades”, diz ela sorrindo.

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