Aprendendo com uma clínica móvel de MSF em Chhatisgarh

Enfermeiro brasileiro atuou em região onde as pessoas afetadas pela violência precisam de cuidados de saúde primária

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Ainda que o profissional seja experiente, ao longo de sua vida, vivencia diversas “primeiras vezes”. Trabalhando com uma organização como Médicos Sem Fronteiras, que atua nos mais diversos contextos, a tendência é que isso seja uma constante. O enfermeiro brasileiro Denílson Borges já havia atuado em países como o Sudão do Sul, Marrocos e Cabo Verde, entre outros, e, recentemente, retornou de um projeto no qual ficou por cerca de oito meses na cidade de Badrachalan, estado de Andra Pradesh, na Índia. Diariamente, ele supervisionou a operação de uma equipe móvel de saúde primária que atravessava a região rural do estado de Chhattisgarh. Todos os dias, o trajeto até as populações afetadas pelos confrontos de longa data entre o governo nacional e a oposição maoísta levava, no mínimo, duas horas.

“Dos maiores aprendizados deste projeto, foi, certamente, a capacidade de analisar o contexto. Como se trata de um cenário onde a situação de segurança é bastante volátil, a gente precisa tentar antecipar problemas. Depois de um determinado momento, eu já sabia dizer que algo ia mal quando não havia movimento entre vilarejos, quando havia bloqueios nas estradas e quando nossos telefones via satélite deixavam de funcionar de repente. Tudo isso indicava possibilidade de confrontos ou ofensivas de algum dos grupos”, conta Denílson. A necessidade da operação de clínicas móveis na região é decorrente, justamente, do constante deslocamento da população, que foge da violência.

Com uma equipe de 22 pessoas, Denílson supervisionava a oferta de cuidados de pré e de pós-natal, vacinação de rotina e consultas em geral, que ofereciam diagnóstico e tratamento para malária, pneumonia, tuberculose e infecções de pele. Para o enfermeiro, lidar com uma equipe tão qualificada e trabalhar com a disponibilidade constante de suprimentos foi uma enorme oportunidade. “Tínhamos nove enfermeiros, sete auxiliares de enfermagem, três tradutores, três motoristas e promotores de saúde ótimos, além de motivados, o que foi uma surpresa muito agradável para mim”, conta ele. Como desafio, Denílson teve de enfrentar alguns hábitos clínicos que já viraram parte da cultura local: “A prescrição de antibióticos é feita comumente, para qualquer infecção, mesmo que não se tenha certeza de que se trata de uma infecção bacteriana, e isso é ruim. Essa é uma das razões pelas quais a Índia é o maior consumidor de antibióticos do mundo e enfrenta problemas com bactérias multirresistente. Nós temos de conter esse impulso”. Por vezes, não foi fácil, mas ele, como chefe de equipe, fez com que os protocolos de MSF fossem rigidamente respeitados.

Ainda sobre a cultura local, o brasileiro conta que teve a chance de acompanhar um parto domiciliar e observou hábitos um tanto peculiares em algumas tribos: “Para atrair a criança no momento em que a mãe faz a força, a parteira coloca uma vasilha com água e ovo em frente à mulher em trabalho de parto. Depois de nascido o bebê, a mãe fica dez dias dormindo do lado de fora da casa, com a criança”, conta, ainda com ar de surpresa. “Sou fascinado por outras culturas!”

Denílson voltou realizado, com a sensação de, mais uma vez, ter feito parte de um trabalho que faz a diferença para muitas pessoas. E como o projeto não era estático, ele, literalmente, prestou assistência a diversas pessoas pelo caminho: “No trajeto até o local em que estabeleceríamos a clínica, éramos abordados por pessoas em necessidade. Crianças em convulsão, mulheres em trabalho de parto, pessoas com anemia severa. Foi uma grande felicidade poder atendê-las sempre que tínhamos oportunidade”.
 

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